quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Dez dicas para você melhorar o planeta

Todo mundo sabe, ou faz de conta que sabe. Então que tal cada um fazer a sua parte? Dez dicas simples para você melhorar o planeta:


segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

POR QUE A ELITE É CONTRA A FEDERALIZAÇÃO DA FURB? (Este texto foi censurado pelo Jornal de Santa Catarina)


Ultimamente temos observado discussões acaloradas sobre a Federalização da FURB. Na última sexta feira participei, pela primeira vez, de uma reunião do Comitê Pró Federalização. O governo Federal tem uma dívida histórica com o Vale do Itajaí. É inadmissível que não tenhamos aqui uma Universidade Federal. Eu sempre  estive convencido de que a melhor maneira é a federalização da FURB.

Abaixo socializo na íntegra um  excelente texto do prof. Marcos Antonio Mattedi. Vale a pena ler e socializar o texto:



Saber do que se fala sempre ajuda. Agora, quando se trata do processo de formulação e implementação de políticas públicas em educação, é preciso sabê-lo de forma precisa. A controvérsia surgida com o repasse dos 16 milhões do Projeto de No.  38/2012 é tão superficial em suas diatribes contra Federalização da FURB que presta um desserviço à comunidade do Vale do Itajaí em geral e à população de Blumenau em particular. Por isso, é dever das pessoas que acompanham o processo de perto efetuar alguns esclarecimentos.

Dentro da atual política do Governo PT, existem duas estratégias predominantes de expansão do ensino superior público federal: 1) Universidade de raiz, em regiões carentes; 2) Campus avançados, através do Programa REUNI. A primeira estratégia não se justifica, porque o Vale do Itajaí apresenta altos índices de IDH e de oferta de vagas no ensino superior; a segunda é insatisfatória porque é muito lenta, e não tem apoio interno da UFSC. É preciso encontrar um caminho alternativo – e esse caminho é a FURB.

O Programa REUNI foi rejeitado pelas universidades hospedeiras, comunidades onde foi implantado e, principalmente, pelos estudantes e professores desses campi. Nesse sentido,  a criação de um Campus da UFSC na região é uma ofensa à história do Vale do Itajaí. Afinal, construímos uma instituição que é a 69ª. universidade brasileira, segundo o Ranking Folha. Por isso, quem defende a criação de um Campus da UFSC, ou desconhece a política do PT, ou não quer uma universidade federal na região.

Mas a luta pela Federalização da FURB não é nova. Remonta ao seu período de fundação, quando o baronato da malha era contrário à criação de uma instituição de ensino superior na região. Somente a elite da região conseguia manter seus filhos estudando nas capitais. Por isso, a FURB é uma criação da classe média. E ao longo de quase 50 anos mudou a história do Vale do Itajaí e serviu de modelo para implantação de ensino superior no interior de Santa Catarina. E cada geração de cidadãos efetuou sua contribuição nesse processo.

Não tenho a ambição de eliminar este equívoco, nem agora, nem aqui. Mas sou obrigado a dizer que a luta pela Federalização da FURB é uma luta de todos que amam viver no Vale do Itajaí. E, mais, é preciso dizer também que a Federalização da FURB é uma ameaça às elites econômicas e políticas que impedem o desenvolvimento do Vale do Itajaí. Quem não quer que a FURB federalizada e defende um Campus da UFSC, quer um processo lento para manter a dominação econômica e política na região. A elite sabe que, se povo população ganha, ela perde!





terça-feira, 4 de dezembro de 2012

MANIFESTO Comitê Pró-Federalização da FURB


A Coordenação Colegiada do Comitê Pró-Federalização da FURB manifesta surpresa frente à posição da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) quanto à expansão da Educação Superior na região do Vale do Itajaí, excluindo a Universidade Regional de Blumenau (FURB). O estranhamento decorre do fato que a Reitoria da UFSC assumira compromissos com o Comitê, de pautar sua decisão a partir da constituição de Grupo de Trabalho para estudar o modelo de colaboração entre as duas universidades, bem como de realizar uma Audiência Pública em Blumenau para ouvir a comunidade regional.
Lamentavelmente, a Reitoria da UFSC anunciou sua posição unilateralmente, sem ouvir a comunidade regional e sem aprofundar o debate da proposta. Resulta fundamental, nesta hora, que o Ministério da Educação, responsável pelo processo, pronuncie-se para clarificar sua posição, se respalda ou não tal atitude.
Diante desta infeliz decisão, o Comitê reitera a continuidade da luta pela universidade federal da região, nascida grande, a partir da generosa oferta do município de Blumenau e da nossa comunidade: a FURB. Temos plena convicção de que, uma vez encontrada a necessária vontade política, esta reivindicação será atendida.
Finalizamos com a convocação da Reunião Plenária do Comitê, marcada para a próxima sexta-feira (dia 07/12/2012), às 16:00 horas, no Auditório do Bloco J – Campus I, oportunidade em que analisaremos a situação ora criada e definiremos os rumos do movimento.

Comitê Pró-Federalização da FURB
Blumenau (SC), 03 de dezembro de 2012.

Comitê Pró-Federalização da FURB
Fundação Universidade Regional de Blumenau
Rua Antônio da Veiga, 140. Campus I, Sala C-200.
89012-900 Blumenau SC
Fone: (47) 3321-0940
Correio-e: furbfederal@furb.br

domingo, 25 de novembro de 2012

FURB E UFSC DISCUTEM INDICAÇÃO GEOGRÁFICA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL NO VALES DA UVA GOETHE


A aula de encerramento da disciplina compartilhada entre os Programas de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da FURB e de Pós Graduação em Direito da UFSC ocorreu neste último sábado (24/11)  no Vales da Uva Goethe em Urussanga – SC.
A aula contou com a participação de professores e pesquisadores da UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense e com palestras das proprietárias da Vinícola Mazon, uma das principais vinícolas que participaram da conquista da Indicação de Procedência do Vales da Uva Goethe. As palestrantes explicaram como ocorreu o processo de conquista da IG e os próximos passos do projeto.
As discussões acadêmicas no encontro destacaram a importância do “pós título”, ou seja, a construção dos processos de certificação dos produtores e o acesso ao mercado. Após a concessão de uma IG, a sustentabilidade passa a ser o principal foco.
 A definição de estratégias para colocação dos produtos no mercado e da organização dos produtores em torno da formação de preços mínimos e máximos a serem praticados é um desafio importante a ser superado. A maneira como os arranjos institucionais são estruturados e como a governança é exercida dentro destes arranjos, pode ser determinante para superar esses desafios.
Por fim ocorreu uma avaliação da disciplina e todos os alunos envolvidos consideraram a experiência extremamente positiva. O excelente nível das discussões, provocadas pela diversidade das áreas de formação envolvidas, propiciou um entendimento amplo e macro das Indicações Geográficas e dos desafios a serem superados para sua consolidação como vetor do desenvolvimento local e regional.
Esperamos que este seja o primeiro de muitos projetos envolvendo os Programas de Pós Graduação em Direito da UFSC e Desenvolvimento Regional da FURB na discussão das Indicações Geográficas. 

III REUNIÃO DO FÓRUM CATARINENSE DE INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS E SIGNOS DISTINTIVOS.


No último dia 23 de novembro ocorreu no município de Urussanga – SC, a III Reunião do Fórum Catarinense de Indicações Geográficas e Signos Distintivos.  A reunião, coordenado pelo Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel da UFSC, contou com a participação de representantes da Secretária de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, Epagri, Proghoete – Associação dos Produtores da Uva e do Vinho Goethe da Região de Urussanga, produtores de vinho Goethe, Prefeitura Municipal de Urussanga, Fecoagro, Ajorpeme, Ampe, Ibravin, e professores e pesquisadores de seis universidades de Santa Catarina.
O encontro aconteceu no auditório da Vinícola Mazon e o local não foi escolhido por acaso. Urussanga faz parte do Vales da Uva Goethe,  primeira e única Indicação Geográfica reconhecida pelo INPI em Santa Catarina.
No evento foram discutidos assuntos relacionados à definição da agenda das atividades do fórum em 2013, a criação de um canal oficial de discussão do fórum, a definição de estratégias para a sensibilização e aproximação de outras entidades representativas no fórum, estratégias para a divulgação dos produtos catarinenses, acesso aos mercados, entre outros assuntos relevantes.
As discussões culminaram com alguns encaminhamentos importantes: definiu-se como prioridade para 2013 a elaboração de uma cartilha para esclarecer a importância das IGs para Santa Catarina, a formulação de uma carta de apresentação do fórum a ser encaminhada para entidades representativas do Estado, a criação de um site específico para divulgar atividades do fórum, a elaboração do estatuto e regimento interno do fórum.
Além disso, decidiu-se que as próximas reuniões do fórum devem contemplar atividades paralelas envolvendo atores regionais para discutir como as IGs poderiam contribuir para o desenvolvimento regional.  
Outra questão importante identificada foi à necessidade de envolver nas discussões representantes da área de turismo do Estado e dos municípios. Entende-se que as IGs podem ter interfaces importantes com esse segmento.
O evento foi um grande sucesso. Chamou a atenção o interesse demonstrado pelos representantes do Governo do Estado em torno das Indicações Geográficas e a expressiva participação das universidades nas discussões. Entende-se que as universidades podem ter um papel decisivo na identificação, desenvolvimento e fortalecimento das IGs, principalmente através de seus programas de pesquisa e extensão multi, inter e transdiscilplinares.
A FURB e o Núcleo de Políticas Públicas (NPP) esteve presente no evento, representados por alunos do Mestrado e do Doutorado em Desenvolvimento Regional.
A próxima edição do fórum deverá ocorrer em março de 2013 no município de Canoinhas e deve contar com eventos paralelos direcionados a professores e pesquisadores que tratam da temática das Indicações Geográficas. A região de Canoinhas discute a possibilidade de solicitar a IG da erva mate.

sábado, 10 de novembro de 2012

INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS E OUTROS SIGNOS DISTINTIVOS COLETIVOS E O DESENVOLVIMENTO REGIONAL SUSTENTÁVEL


Neste trimestre o Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da FURB e o Programa de Pós Graduação em Direito da UFSC oferecem uma disciplina em conjunto para mestrandos e doutorandos das duas universidades. As discussões estão relacionadas às Indicações Geográficas e sua relação com o Desenvolvimento Regional Sustentável abordando os pontos positivos e críticos dessa relação bem como as interfaces geradas com as áreas de direito, economia, meio ambiente e afins. As aulas estão sendo ministradas nas duas universidades e o programa contempla também a verificação in loco de experiências de Indicação Geográfica, bem como a vivência de discussões que tem relação direta com o tema abordado pelas disciplinas envolvidas.
Os trabalhos estão sendo coordenados pelos Professores Dr. Luiz Otávio Pimentel e Profa. Dra. Fabiola Wus Zibetti da UFSC e pela Profa. Dra. Patrícia Luiza Kegel da FURB. Alem destes professores outros professores convidados das duas instituições e representantes do MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também participam das discussões.
Neste sábado (10/11) as atividades foram realizadas no município de Pomerode, considerado um município emblemático em relação a potencialidades de IGs. Os alunos participaram de uma importante discussão relacionada à produção do “Queijo Kochkäse”, produto tradicional e que está desaparecendo na região e visitaram a produção da Oxford Crystais.
Para os próximos dias 23 e 24 de Novembro está prevista uma visita técnica para os Vales da Uva Goethe, primeira Indicação Geográfica de Santa Catarina. Além disso, os alunos e professores devem participar do Fórum Catarinense das Indicações Geográficas.

EXPERIÊNCIAS DE MANEJO AGROFLORESTAL E COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS ORGÂNICOS EM SANTA CATARINA


No último dia 08 de novembro foi realizada uma visita técnica na disciplina de  Economia Solidária e Território do Doutorado em Desenvolvimento Regional para vivenciar experiências de manejo agroflorestal e produção e comercialização de produtos agroecológicos. Os alunos visitaram três propriedades no município de Presidente Getúlio, no Alto Vale do Itajaí. Em uma propriedade rural verificou uma experiência interessante que concilia a preservação das florestas com a geração de renda através da apicultura. Nas outras duas propriedades rurais observou-se a produção orgânica de hortaliças.
Foi possível verificar o excelente trabalho desenvolvido pela CEMEAR (Centro de Motivação Ecológica e Alternativas Rurais), órgão que atua desde 1996 através de ações de cooperação técnica, ecologização de unidades produtivas familiares e estruturação do circuito de comercialização da distribuição de alimentos agroecológicos.
A CEMEAR promove uma articulação dos agricultores familiares agroecológicos e o mercado de produtos orgânicos. Os agricultores, organizados nos diversos grupos e associações, contam com o assessoramento direto de outros trabalhadores: técnicos agrícolas, engenheiros agrônomos, economistas etc, para desenvolver suas atividades e gerar emprego e renda local.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O NOVO MANDATO DE OBAMA SERÁ SUSTENTÁVEL?



Sempre gostei do Obama. Acho que esse sim é " o cara". Pela primeira vez os EUA tem um presidente que se preocupa muito mais com os problemas internos de seu país ( e que não são poucos) do que em fazer confusão com outros países.
Seria uma profunda injustiça se Obama não obtive sucesso nas eleições. Abaixo compartilho um interessante artigo do Jornalista André Trigueiro que foi publicado hoje no site G1. Acho que vale a pena ler.


Boa parte dos votos que asseguraram a reeleição de Barack Obama chegaram às urnas soprados pela força dos ventos do furacão Sandy, um evento climático extremo que surpreendeu os cientistas pela rota incomum. A tempestade obrigou o candidato republicano Mitt Romney a reconhecer que o adversário democrata estava certo, ou seja, que o país necessita de uma agência federal para a prevenção de desastres.
Pode-se dizer de forma bem humorada que Obama está em dívida com Sandy. Mas é possível afirmar sem nenhuma dúvida que o presidente reeleito não cumpriu importante promessa feita há quatro anos quando se comprometeu a ser o “principal líder climático do planeta”.
Em seu primeiro mandato Obama conseguiu aprovar na Câmara um projeto inovador para regular as emissões de gases estufa nos Estados Unidos. Batizado de “Cap and Trade”, o projeto estabelecia os limites de emissões para cada setor da economia e as regras para a criação de um mercado de carbono doméstico.
Bombardeado pelos republicanos, por empresas eletrointensivas que queimam regularmente quantidades monumentais de combustíveis fósseis e por segmentos da mídia que associavam o “Cap and Trade” a mais desemprego num momento difícil da economia, Obama recuou e abandonou à própria sorte o projeto que hoje dormita em alguma gaveta do senado.
O que fará o presidente reeleito em relação a este projeto no segundo mandato? Ninguém sabe. A questão climática manteve-se ausente durante a campanha eleitoral.
E qual será a postura do presidente nas negociações do clima? Por enquanto, guarda-se viva na memória a passagem relâmpago de Obama por Copenhague durante a COP-15 para um dos pronunciamentos mais burocráticos e menos inspirados de seu primeiro mandato. Também preferiu não vir à Rio+20. Ficou clara a estratégia do presidente de calibrar suas declarações sobre assuntos ambientais de interesse mundial ou participações em eventos fora dos Estados Unidos sempre de acordo com os humores de seu eleitorado. O resultado nesse sentido foi pífio.
Mas Obama – através do EPA (Environmental Protection Agency) – determinou que o dióxido de carbono (CO2) passasse a ser considerado um poluente. A medida permitiu uma série de restrições que passaram a ser impostas aos maiores poluidores do país. Uma enxurrada de ações judiciais questionou a medida, mas a Suprema Corte deu ganho de causa ao governo. Ponto para ele.
Segundo dados do WorldWatch Institute, nestes primeiros quatro anos da Era Obama houve um aumento de 55% na eficiência dos combustíveis, a importação de petróleo caiu 32%, as emissões de dióxido de carbono foram reduzidas em 10%, a capacidade instalada dos parques eólicos dobrou e a produção de energia a partir do sol foi multiplicada por sete.
Se, por uma lado, a matriz energética americana registrou um salto qualitativo na direção das fontes limpas e renováveis, por outro, a administração Obama passou a apoiar ostensivamente a exploração de gás de xisto através de um método conhecido como “fracking”, que injeta explosivos e substâncias quimicas no subsolo. Controverso e polêmico, o gás de xisto divide a comunidade acadêmica e científica – alguns países da Europa proíbem sua exploração – pelos enormes riscos de contaminação das águas subterrâneas.
Apesar de tudo, do ponto de vista ambiental, melhor Obama do que Romney. Os democratas têm assumido historicamente muito mais compromissos em favor do meio ambiente do que os republicanos, que chegaram a censurar relatórios da Nasa e da EPA sobre aquecimento global na era Bush.
Mas Obama continua devendo. É evidente que os obstáculos são gigantescos, que o Congresso não lhe é favorável, que a sociedade americana está dividida também no que diz respeito a certas políticas ambientais, mas político reeleito costuma ser mais assertivo em suas convicções num eventual segundo mandato.
O que estará em jogo nos próximos quatro anos é o legado que Barack Obama pretende deixar à frente da Casa Branca. Quem senta naquela cadeira, comandando a única superpotência do planeta, não pode tudo, mas pode muito. Se experimentamos a maior crise ambiental da História da humanidade – e Obama sabe disso – há muito o que fazer até 2016.
Que ele possa cumprir o que disse no discurso da vitória, horas atrás: “O melhor ainda está por vir”.


Texto do jornalista André Trigueiro, extraído do portal G1 em 07/11/2012.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CIÊNCIA E TECNOLOGIA NO BRASIL, POR RENATO DAGNINO


As empresas, no Brasil, absorveram menos de 1% de mestres e doutores formados em ciência dura entre 2006 e 2008. Dos cerca de 90 mil, somente 68 foram contratados. Estes números foram destacados na palestra do professor titular do Departamento de Política Científica e Tecnológica da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Renato Dagnino, realizada no CNPq, dia 26 de outubro, em Brasília (DF).
Em entrevista exclusiva para a Agência Gestão CT&I de Notícias, Dagnino aponta a falta de discussão como um dos principais problemas para reorientar a política do setor.

Na sua opinião, quais são os marcos da Política de C&T no país?
A nossa política de ciência e tecnologia é marcada pela continuidade. Praticamente não houve nenhuma mudança significativa desde o seu início. O objetivo tem sido sempre criar uma capacidade de produção de recursos humanos, uma capacidade de pesquisa. O que estamos constatando como resultado dessa política é uma situação esdrúxula. Nós formamos entre 2006 e 2008 cerca de 90 mil mestres e doutores em ciência dura. As empresas, no entanto, absorveram apenas 68 pessoas. Esse é um dado muito claro e mostra a incoerência dessa política de C&T.
Como o senhor analisa a evolução da política de C&T desde a criação dos fundos setoriais?
Os fundos setoriais foram mostrados para a sociedade como sendo uma iniciativa racional e sistemática. No entanto, eles não decorrem de nada muito sistemático nem racional. Eles foram criados a partir de uma oportunidade onde estavam sendo privatizados determinados setores da economia e, onde, em conseqüência, o governo obteria recursos adicionais em função dessas privatizações. Então o que houve foi um senso de oportunidade dos dirigentes da política de ciência e tecnologia de captar parte desses recursos para o desenvolvimento científico e tecnológico.
Dessa forma, nada garante que aquilo que o Brasil precisava, de fato, quando estavam ocorrendo aquelas privatizações e a constituição dos fundos setoriais, que eram aqueles setores os que mais interessavam ao desenvolvimento do país.  No entanto, volto a dizer, e todos sabem, era ali onde havia a oportunidade de arrecadar recursos. Tanto é assim que, posteriormente à criação dos fundos, houve uma paulatina adaptação desses instrumentos à realidade existente. Então, eu não considero a criação dos fundos setoriais como um marco a ser discutido.
O senhor então não acredita em nenhum avanço na política do setor?
Até onde eu posso verificar a continuidade de algo que parte de supostos, hipóteses, modelos, de como funciona a relação ciência e tecnologia de forma equivocada, essa política tende a produzir resultados indesejáveis. Neste sentido eu não vejo nada que poderia indicar como sendo avanços. Agora, por outro lado, é óbvio que produzir mestres e doutores é melhor do que traficar escravas brancas. Cito este exemplo pois em um dos debates que tive com colegas da Unicamp, um deles uma vez me disse: “Dagnino, por que você vem aqui me incomodar? Eu não trafico drogas, não trafico escravas brancas, pago o meu imposto, a única coisa que eu quero é formar os meus alunos. Por que você está aqui me enchendo o saco”?
O senhor apontou diversos problemas na política de C&T do Brasil. Quais são os principais gargalos do setor?
O principal gargalo hoje é a falta de discussão. Nós não estamos discutindo temas que permitam a nós reorientar a política do setor no sentido da transformação que a sociedade deseja.
Que fatores levam o baixo investimento das empresas em P&D?
Pesquisa e desenvolvimento é caro, é incerto. Você tem que lidar com prima-dona. A comunidade científica nunca erra, quem desafina é a orquestra. Então fazer P&D dentro de uma empresa é sempre muito complicado. Quem é que faz P&D no mundo? São as empresas que não podem roubar, copiar ou comprar. Agora nos países periféricos como o Brasil, a norma não é fazer P&D e sim  roubar, copiar ou comprar.
Como mudar esse quadro?
O quadro é estrutural no nosso capitalismo periférico. Você não o muda. Podemos até derramar mestres e doutores goela abaixo das empresas. Podemos formar 60 mil novos mestres e doutores  por ano e ainda assim é muito pouco provável que  elas absorvam, a não ser que seja de graça, como está ocorrendo de certa forma hoje.


Fonte: News - Newsflash


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

SAÍDA DE CAMPO NO DOUTORADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL


No último dia 19 e 20 de outubro os alunos da disciplina de Ecossocioeconomia e Território do Mestrado e do Doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau (FURB),  realizaram uma importante visita técnica a Microbacia do Rio Sagrado, localizada no município de Morretes (PR). O objetivo foi vivenciar in loco experiências de desenvolvimento territorial, com particular enfoque na temática dos Arranjos Socioprodutivos de base territorial. A atividade, coordenada pelos Professores Sampaio e Cristiane Mansur, propiciou aos alunos uma importante aproximação entre a teórica e a prática, extremamente importante para entender e discutir a complexidade das experiências de desenvolvimento local e regional.

A NIGÉRIA NO BRICS?


Desde a entrada da África do Sul, oficializada na cúpula do Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), em 2010, analistas de mercado, economistas e até o próprio criador da sigla, passaram a criticar a participação do país. Quando o enfoque é demografia e crescimento econômico, o candidato preferido teria sido a Nigéria, grande produtor petróleo. No entanto, apesar da descrença, e tendo a China como guardiã, o país se esforça para aproveitar o lugar no time de potências mundiais e provar que é digna da nomeação.

“Ser parte do maior grupo político e econômico pode beneficiar o desenvolvimento interno”, salientou nesta quinta-feira (01/11) o vice-ministro sul-africano de Relações Exteriores Ebrahim Ebrahim. “Nossos parceiros dos Brics entendem e compartilham de nossas aspirações por crescer, assim como desenvolver o resto da África”, afirmou o sul-africano, que anunciou o interesse de seu país de sediar um possível banco do grupo. Os Brics propõem a criação de uma instituição para financiar projetos de infraestrutura e desenvolvimento em seus países.

Sob uma perspectiva econômica, quando a África do Sul é comparada com o Brasil, China, Índia, os números estão aquém de uma potência emergente. De acordo com o FMI, o PIB (Produto Interno Bruto) da África do Sul foi revisado para menos de 3.2% para 2.7% este ano, a meta será atingir 3.6% em 2013 e 4.2% em 2014. Enquanto isso, os outros países da África esperam crescer em torno de 7% a médio e curto prazo. Já China e Índia, por outro lado, apostam no crescimento entre 7% e 10%.

Os países do Brics juntos equivalem a 15.17% do volume das exportações globais, o que contribui cada vez mais para a importância político-econômica do bloco. A China sozinha lidera mais de 12% desse volume. Se avaliarmos os índices de desemprego dos países membros, a África do Sul registra 24%.

Já na análise demográfica, a África do Sul também possui a menor população na comparação com Brasil, Rússia, Índia e China, com seus quase 50 milhões de habitantes. Mas, apresenta grande taxa de crescimento populacional, similares ao Brasil e Índia.

Para a doutora em Relações Internacionais e pesquisadora visitante da organização Brics Policy Center, Alessandra Arkhangelskaya, a inclusão da África do Sul no bloco foi muito relevante para o continente e não deve ser analisada isoladamente. “A África e sua agenda estão incluídas nas estruturas principais dos Brics. A África do Sul se posiciona como uma potência regional, assim como uma porta para todo o continente. Mesmo com todos os desafios sócio-econômicos, não há dúvidas sobre sua liderança regional e seu papel deve ser reconhecido internacionalmente.”, revela.

A pesquisadora lembra que a Rússia é o maior país do mundo, possui muitos recursos naturais e também desafios assim como os outros participantes dos Brics. “A Rússia tem uma tendência demográfica diferente, pois todos os países do bloco estão em crescimento demográfico, mas o mesmo não acontece com a Rússia que tem taxas negativas e isso já é um problema”, afirma.

Forte candidato

A Nigéria é o país mais cotado para integrar o Brics e se tornar a maior liderança da África por sua rápida ascensão econômica e populacional. Além disso, está cada vez mais atraindo investidores para seu território. De acordo com o relatório da ONG sul-africana Polity, a taxa de crescimento econômico do país foi de 6.8%, no quarto trimestre de 2010, contra 4.4% da África do Sul no mesmo período. Por outro lado, muitos fatores ainda assombram o país e impedem o seu desenvolvimento, entre eles: instabilidade política, alto índice de desemprego entre jovens, sistema inadequado de educação e corrupção.

A Nigéria seria uma escolha por ser uma das maiores economias africanas. Porém, em 2010, a África do Sul também figurava em outros blocos econômicos juntamente com alguns membros do BRIC e já era porta-voz do continente em fóruns internacionais. Também é inegável que o  sistema financeiro e de telecomunicações sul-africano estão mais desenvolvido do que em outras nações, além de possuir melhor infraestrutura”, comenta Lucy Corkin (À ESQUERDA), doutora em Ciência Política e pesquisadora visitante do BRICS Policy Center.

Diante do pequeno desenvolvimento econômico sul-africano, os investidores internacionais estão voltando seus olhares para países como Nigéria, Angola e Moçambique, que mostram taxas de crescimento expressivas. “Os investidores reconhecem os problemas internos desses países, mas ficam animados com as perspectivas econômicas dessas nações e projetam maior retorno dos investimentos. Enquanto isso, a África do Sul está perdendo oportunidades”, relata Lucy Corkin.

Grande aliada

O analista de mercado da Saxor, Salim Mahmood, afirma que, apesar de não ser muito comentado, a China foi essencial para a entrada da África do Sul para os Brics.  A potência asiática tem grandes investimentos no país, principalmente nos setores bancário, infraestrutura de mineração, transporte e energia renovável.

“O Banco Industrial Comercial da China (ICBC) tem um investimento maciço de R$ 4,7 bilhões, uma participação de 20% no Standard Bank da África do Sul. A China é o maior parceiro comercial da África do Sul, com um superávit em favor da China. Inclusive, a infusão do Yuan chinês manteve a África do Sul à tona durante a recessão econômica. Também é perceptível que a China tem um lugar de importância na política externa da África do Sul”, acrescenta Mahmood.

A pesquisadora Lucy Corkin concorda que a China enxerga o mercado sul-africano como um canal importante também para o continente. “As empresas chinesas possuem uma posição estratégica na África do Sul e os investimentos permitem adentrar nos países do continente. Além disso, a China sempre recebe apoio sul-africano nos fóruns mundiais”, diz.

Para Madmood, a África do Sul funciona como porta de entrada para África, que oferece acesso a um mercado de um bilhão de pessoas em 61 territórios e 54 países, o que equivale a 15% da população mundial. “Os países do Brics estão crescendo rapidamente e, para garantir isso, eles precisam de commodities sul-africanas”, conclui. 

Fonte Opera Mundi.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

ALUNOS DO SENAC REALIZAM VISITA TÉCNICA A DUDALINA


No último dia 08 de agosto os alunos do segundo semestre do curso superior em Processos Gerenciais da Faculdade SENAC de Blumenau efetuaram uma visita técnica a empresa Dudalina. A visita foi estruturada nas disciplinas de Fundamentos de Marketing e Economia e Mercado lecionadas pelos Professores Leonardo Furtado e Valdinho Pellin, respectivamente. Durante a visita técnica os alunos conheceram a história da empresa e sua evolução, as ações de responsabilidade social desenvolvidas pela organização, as estratégias de marketing utilizadas e os principais aspectos relacionados à logística e a exportação.
A Dudalina iniciou suas atividades em 03 de maio de 1957 e em 2008 alcançou a marca de mais de 50 milhões de camisas vendidas tornando-se uma referência em moda masculina contemporânea.
A empresa desenvolve várias ações de responsabilidade social com destaque para o projeto de geração de renda onde instituições recebem kits de retalhos e criam vários produtos, como por exemplo, sacolas ecológicas. A empresa também é associada ao Instituto Ethos que propaga o conceito de responsabilidade social empresarial incorporando-o ao dia-a-dia da gestão.
Em relação às estratégias de marketing foi possível observar a importância que a  empresa dá para a utilização das mídias sociais, principalmente Facebook e blogs específicos. As estratégias de marketing da organização são criativas e tem apresentando um excelente resultado.
Em relação a exportação observou-se que a organização está iniciando uma aproximação com o mercado europeu através da abertura de uma loja em Milão, berço da moda internacional. O objetivo é reforçar a imagem da marca na Europa e depois disso exportar também para os Estados Unidos. Atualmente a exportação é focada para alguns países do Mercosul com destaque para o Paraguai, Uruguai, Chile e Bolívia. O projeto também visa aprofundar as relações comerciais com estes países aumentando o volume de exportação.
Em relação à logística, observou-se que a empresa trabalha com um conceito interessante relacionado ao fluxo produtivo. Trata-se do Estoque de Giro, ou seja, “só produz o que está vendido”.
A visita técnica foi importante para reforçar conceitos de marketing e economia discutidos em sala de aula. Nos próximos meses os alunos poderão aprofundar as discussões que certamente devem ocorrer na disciplina de Economia e Mercado.
Um agradecimento especial a toda a equipe da Dudalina pelas excelentes palestras proferidas durante a visita técnica.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A relação entre Política e Desenvolvimento



Política e desenvolvimento

A importante relação entre política e desenvolvimento no excelente artigo de Samuel Pinheiro Guimarães, publicado na Carta Maior.

1. O desenvolvimento é um processo caracterizado pela utilização, cada vez mais ampla e intensa, dos recursos naturais, da força de trabalho e do capital de uma sociedade para torná-la cada vez, mais próspera, mais igual, mais justa e mais democrática.

2. O desenvolvimento depende de uma crescente capacidade de aplicação de tecnologias de produção aos recursos naturais, desde sua extração até seu processamento e transformação física e química, em diferentes etapas sucessivas, nos mais distintos setores.

3. Na economia moderna, tudo depende da aplicação do conhecimento. Este não existe flutuando no ar, mas se encontra incorporado a máquinas, as quais funcionam acopladas à mão de obra, desde engenheiros altamente qualificados até operários, dos mais aos menos qualificados.

4. Os setores que são diferentes da indústria, tais como a mineração, a agricultura e os serviços, dependem de máquinas e equipamentos produzidos pela indústria para funcionar de forma eficiente. Todos os equipamentos utilizados pelas mais diferentes unidades econômicas em qualquer setor da economia são produzidos pela indústria.

5. É um equívoco a idéia de que o Brasil pode se desenvolver com base na agricultura, ou na mineração ou nos serviços e que, a partir da exportação de seus produtos, pode importar os bens industriais para seu consumo, sem que haja a necessidade de desenvolvimento industrial intenso e sofisticado.

6. A organização da produção é feita pelas empresas privadas, estatais ou mistas. Não há produção moderna espontânea; a produção, isto é, a combinação dos fatores de produção (insumos, trabalho, capital) tem de ser sempre organizada por empresas, e esta organização depende, em geral, do sistema de crédito.

7. O desenvolvimento decorre da acumulação de capital a qual se verifica pelo reinvestimento dos lucros e pela mobilização do crédito para a expansão e a modernização das atividades das empresas produtivas, em qualquer setor.

8. A atividade empresarial ocorre em um quadro jurídico definido pelo Estado, isto é, pela legislação e pelas políticas e programas tributários, creditícios, monetários, cambiais. A orientação estratégica dessa legislação e dessas políticas decorre da visão que os setores da classe hegemônica que compõe o Governo e controlam o Estado em dado momento tem da natureza e da situação da economia do país, da capacidade do seu povo e das características do sistema e da situação internacional.

9. Esta legislação define, de um lado, os critérios de participação das megaempresas multinacionais e do capital nacional quer na agricultura, quer na indústria, quer no transporte, quer no comércio, e os mecanismos de inserção do país na economia e na política internacional. De outro lado, a legislação define o sistema de distribuição dos resultados da produção entre capitalistas, empresários e a mão de obra, qualificada ou não.

10. O desenvolvimento industrial, e seus parâmetros jurídicos, não é apenas um processo doméstico de luta ideológica e política, de que participa intensamente a mídia, entre os setores da sociedade para fazer adotar certas legislação e políticas. Este processo é também afetado pelos interesses de terceiros países, em especial das Grandes Potências.

11. As Grandes Potências não se opõem ao desenvolvimento econômico, político e militar dos países subdesenvolvidos desde que esse desenvolvimento e as políticas utilizadas para promovê-lo não contrariem os seus interesses.

12. Se um país subdesenvolvido procura promover o seu desenvolvimento, o processo de acumulação doméstica de capital, privilegiando as empresas de capital nacional, privadas ou não, através de políticas de proteção e de estímulo sofre ele a firme oposição daqueles mesmos Estados que, no passado, usaram o mesmo tipo de políticas para se desenvolver.

13. Os países altamente desenvolvidos procuram energicamente manter sua liderança econômica e política. Para isto, é necessário manter a vantagem competitiva de suas megaempresas, a qual é adquirida e preservada por intenso esforço de pesquisa tecnológica e pelo acesso a mercados e a recursos naturais em qualquer local no mundo. Ao mesmo tempo, protegem seus setores primários e industriais menos competitivos e subsidiam o desenvolvimento de suas indústrias nas áreas tecnológicas mais avançadas e as protegem de tentativas de aquisição por estrangeiros. Procuram dificultar a difusão da tecnologia industrial mais avançada através de sistemas de proteção de patentes e de acordos específicos, tais como os acordos de não proliferação horizontal; procuram impor tratados bilaterais e multilaterais de abertura comercial e financeira, e finalmente, procuram assegurar que a legislação interna dos países garanta a legalidade e o privilégio da presença de suas megaempresas em seus mercados.

14. Até a eclosão da crise em 2007, argumentavam os países desenvolvidos que a organização mais eficiente da economia mundial decorreria da mais ampla implantação do livre comércio, isto é, da eliminação de barreiras, comerciais e financeiras e de políticas domésticas de estímulo à industrialização.

15. Apesar desse seu discurso tradicional, os países altamente desenvolvidos, em decorrência da crise, estão lançando mão de todo tipo de política para recuperar a sua atividade econômica, reduzir o desemprego, aumentar as exportações e conter as importações, sem maior consideração pelos acordos internacionais cuja negociação eles mesmos articularam e impulsionaram, tais como os que resultaram da Rodada Uruguai, que levou à criação da Organização Mundial do Comércio.

16. Um governo qualquer, integrado por representantes de diferentes setores da classe hegemônica, pode ver o sistema econômico e político internacional como altamente competitivo e cooperativo, onde há livre acesso aos mercados e às tecnologias modernas de produção, em que os Estados não agem em defesa de suas empresas. Ou pode vê-lo como um sistema oligopolizado por megaempresas multinacionais, pouco cooperativo e onde o acesso às tecnologias mais modernas é extremamente restrito e onde os Estados, em especial os grandes Estados, defendem e impulsionam os interesses de suas empresas. Pode essa classe hegemônica ver a sociedade e a economia brasileira como fracas políticas e economicamente e incapazes de gerar a tecnologia e o capital necessários aos investimentos ou, ao contrário, podem vê-las como dotadas de amplo potencial para esta tarefa. Há nuances entre estas duas visões extremas, mas elas refletem a essência da questão ideológica, estratégica e finalmente política do desenvolvimento.

17. A classe hegemônica, ao imaginar o povo de seu país como incapaz, as Grandes Potências como cooperativas e o Estado como inimigo da liberdade, pode concluir que a atividade econômica deve ser regida exclusivamente pelas forças de mercado onde todos os interesses nacionais e externos seriam equilibrados, compatíveis e convergentes, sem interferência do Estado que apenas distorceria a competição, a correta alocação de recursos e a redistribuição, sempre “prematura”, da renda.

18. Caso a classe hegemônica que controla o Estado tenha consciência de que há enorme diferença de dimensão entre as empresas nacionais e estrangeiras, que há restrições à aquisição de tecnologia, que os interesses são divergentes e antagônicos, que as megaempresas têm estratégias globais de investimento, comércio e pesquisa não necessariamente compatíveis com os interesses do desenvolvimento nacional, que o mercado representa os interesses financeiros de curto prazo, pode concluir que é necessário lançar mão do Estado e da legislação para desenvolver certos setores industriais mais complexos e que requerem mais capital, estimular e proteger o capital nacional, organizar a participação do capital multinacional, ampliar o mercado interno e promover com energia a geração e a transferência de tecnologia.

19. Neste processo ideológico e político, em que os meios de comunicação tendem a se alinhar com os interesses externos, multinacionais e globalizantes, e com uma visão neoliberal da economia, da sociedade e do Estado, a articulação e a pressão das organizações sindicais, dos movimentos sociais e populares é essencial para fazer prevalecer o interesse geral de longo prazo da sociedade e levar a classe hegemônica que controla o Estado a adotar as políticas adequadas.

20. Há na crise um desafio e uma oportunidade para um Estado como o Brasil, semi-industrializado, com razoável e crescente mercado interno, porém com um parque industrial não integrado, cada vez mais vulnerável e desnacionalizado, mas com um setor financeiro sólido, não contaminado pelos ativos tóxicos gerados pela mega especulação dos grandes centros financeiros. Para aproveitar esta oportunidade é necessário acelerar o seu processo de acumulação de capital, de integração da estrutura industrial, de formação do mercado interno pela construção da infraestrutura de energia e transporte e através de programas de redistribuição de renda, de promoção da transferência de tecnologia e de diversificação das exportações e importações. De outro lado, há o desafio de resistir às políticas dos países desenvolvidos que, diante da crise e da emergência da China, procuram abrir mercados a qualquer preço, através de subsídios e da manipulação cambial, e protegem seus mercados internos e suas empresas em uma estratégia que já está afetando o dínamo do processo de desenvolvimento e de acumulação de capital, que é a estrutura industrial brasileira, por processos de desindustrialização e desnacionalização.

21. As políticas e os programas que vem sendo executados pela Presidenta Dilma e que são, em verdade, a resultante de um permanente confronto entre os diversos setores, de progressistas a conservadores, da classe hegemônica, representados no Executivo e no Legislativo, apontam, em sua maioria, na direção estratégica correta. Todavia, não são ainda suficientes para enfrentar o crescente desafio da crise internacional no que ela tem de mais regressivo e para aproveitar a oportunidade excepcional que ela oferece ao Brasil.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

ENTENDA PORQUE O MÉXICO PODE SER O NOVO BRASIL NA ECONOMIA MUNDIAL


“O México, aparentemente, é o novo Brasil”, afirma o jornalista Jonathan Wheatley em artigo no Financial Times.
Ex-correspondente em São Paulo, ele vê uma troca de papéis entre as duas maiores economias da América Latina. Se na década de 2000 o Brasil se tornou queridinho dos investidores, agora é o México que aparece com boas perspectivas.
As bolsas de valores já estão refletindo isso, observa Wheatley. Enquanto a brasileira está em queda de 3,83% em 12 meses, a mexicana acumula alta de 14% no mesmo período. O autor nota que o Ibovespa está no mesmo nível de 2009 – “e não era isso que os investidores esperavam quando voltaram ao País naquele ano”.
Na opinião do jornalista, “a famosa economia de voo de galinha do Brasil está voltando ao normal”. Depois de cresceu 7,5% em 2010, o PIB (produto interno bruto) brasileiro subiu apenas 2,7% no ano seguinte a deve aumentar menos de 2% em 2012.
Whatley explica por que os países estão trocando os papéis. O Brasil atraiu investidores porque se beneficiaria de um imenso mercado interno em expansão – impulsionado pelo crédito – e pela capacidade de fornecer matérias-primas para economias em expansão como a China.
Já o México não chamava muita atenção de investidores porque sua economia dependia muito de exportar para os Estados Unidos. Suas empresas nos últimos anos tiveram que enfrentar a dura concorrência chinesa – que aumentou sua presença nos EUA – e ainda, com a crise, viram seus principais clientes – os consumidores americanos – perderem poder de compra.
Inversão
“Como as coisas mudam”, disse Wheatley. A China está se desacelerando e perdendo ao apetite pelas matérias-primas, e o promissor mercado interno brasileiro tende a crescer menos enquanto os consumidores estiverem endividados. Ainda, o custo de produção na China subiu – beneficiando exportadores mexicanos – e a renda dos americanos aumentou.
No entanto, Wheatley faz uma ressalva. Nota que, na bolsa brasileira, o preço das ações atualmente varia em torno de 9 vezes o valor do lucro de um ano projetado por papel. No México, essa proporção é de 15 para 1. “Não se surpreenda se essas razões passarem a convergir”, afirma o articulista. Se isso ocorrer mesmo, será uma boa notícia para quem tem ações no Brasil – ou má para quem investe no México.
Fonte: Estadão

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Participe da Rio + 20

Saiba que você pode participar da Rio + 20 sem sair de casa. Portanto não há mais desculpas. Faça a sua parte. Acesse o link abaixo e vote para um mundo melhor para todos:

http://vote.riodialogues.org/?l=pt

segunda-feira, 21 de maio de 2012

WORKSHOP CATARINENSE DE INDICAÇÃO GEOGRÁFICA EM BLUMENAU


O Instituto Euvaldo Lodi de Santa Catarina – IEL estará organizando no próximo dia 22 de junho um Workshop sobre Indicação Geográfica. O evento acontece na sede do SENAI/SC localizada na Rua São Paulo, 1147. Abaixo a programação oficial do evento:
 
PROGRAMAÇÃO

08h30m – Recepção e Credenciamento com Café da Manhã de Boas Vindas.

09h – Abertura

09h20m – Tema: "Sinais distintivos"
Palestrante: Prof. Dr. Luiz Otávio Pimentel (Coordenador do PPGD/UFSC).

10h – Tema: "Indicação Geográfica como vetor de Desenvolvimento Econômico"
Palestrante: Profa. Dra. Patrícia Luiza Kegel (Docente PPGDR/FURB).

10h40m – Tema: "Indicação Geográfica como ferramenta para o aumento da competitividade de produtores, empresas e região".
Palestrante: Hulda Giesbrecht (Analista do SEBRAE Nacional)

11h20m - Tema: "INPI e a Proteção das Indicações Geográficas"
Palestrante: Raul Bittencourt Pedreira (Analista de Indicação Geográfica do INPI)

12h30m – Almoço

14h – Tema: "FAPESC e a Lei de Inovação de Santa Catarina"
Palestrante: Clóvis Renato Squio (Procurador Jurídico da FAPESC).

15h – Tema: "A atuação do MAPA para o desenvolvimento das Indicações Geográficas Brasileiras"
Palestrante: José Carlos Ramos (Coordenação de Incentivo às Indicações Geográficas de Produtos Agropecuários – CIG/DEPTA/SDC/MAPA).

15h45m – Coffee Break

16h15m – Tema: "Indicação Geográfica: Um Instrumento para Agregar"
Palestrante: Suelen Carls (Diretora de Inovação AMPE/CIAMPEVI, Advogada).

17h – Tema: "Inovação versus desindustrialização"
Palestrante: Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico Sustentável.

17h45m – Fórum Catarinense de Indicações Geográficas.

18h – Coquetel de Encerramento
As inscrições podem ser realziadas pelo seguinte site:  http://www.dksites.com.br/workshopigsc

segunda-feira, 16 de abril de 2012

REPENSAR A ECONOMIA: UM DESAFIO PARA O SÉCULO XXI

Gostaria de socializar com vocês uma ótima entrevista dada pelo Professor do curso de Economia da USP Ricardo Abramovay. O professor Abramovay fala de assuntos interessantes e polêmicos como a Economia Verde e outros temas que devem permear os debates da Rio + 20.
Vale a pena ler. A entrevista é uma verdadeira aula de economia.

Repensar a economia. O desafio do século XXI. Entrevista especial com Ricardo Abramovay

“Não se trata de contestar o crescimento econômico por si só. Trata-se de fazer a pergunta que a ciência econômica habitualmente não faz: crescer para quê, para produzir o quê, para ter qual resultado na sociedade?”, questiona o professor titular do Curso de Economia da Universidade de São Paulo – USP.
Confira a entrevista:

Embora tenha sido possível produzir bens de consumo emitindo 21% a menos de gases de efeito estufa e consumindo 23% menos materiais, o crescimento econômico mundial foi tão expansivo, nas últimas duas décadas, que os esforços econômicos e ambientais não surtiram efeito. Com base nessas informações, e partindo de uma posição moderada, nem pessimista nem otimista demais, o professor da USP, Ricardo Abramovay, destaca que, no atual período de transição para uma economia de baixo carbono, os desafios para o planeta atingir a sustentabilidade perpassam por mudanças não só na forma de produzir bens de consumo e serviço, mas também de repensar a Ciência Econômica.

Essas foram as discussões centrais da palestra que Abramovay ministrou na Unisinos, na última quarta-feira, 12-04-2012, participando do Ciclo de palestras Rio+20, promovido pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU. Apesar de ser favorável ao conceito de economia verde, um dos temas centrais a ser abordado na Rio+20, ele é enfático: “Reconhecer a importância das inovações tecnológicas embutidas na idéia de economia verde não significa dizer que a economia verde e, muito menos o suposto crescimento verde, são capazes de resolver os problemas do século XXI”. Para ele, a desconfiança que os diferentes participantes da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável têm em relação à efetividade da economia verde “tem razão de ser”. E esclarece: “Essa desconfiança só será atenuada caso se consigam associar as inovações tecnológicas da economia verde – que são importantes e necessárias, a partir da idéia de limites e luta contra as desigualdades”.

Antes do evento, Abramovay conversou com IHU On-Line pessoalmente e falou sobre o que significa repensar a economia e os desafios intelectuais e políticos que envolvem essa discussão. Segundo ele, o momento atual exige mudanças decisivas especialmente “nos propósitos da vida econômica. (...) Para a ciência econômica (a Economics) o sentido da vida econômica não é algo que deva ser questionado: porque cada indivíduo vai cuidar de si e o resultado vai ser o melhor para todo mundo. Isso talvez fosse verossímil em um mundo de três bilhões de pessoas. Mas em um mundo tão desigual e rumando para 10 bilhões de habitantes, temos que nos perguntar para que se produz e quais são as finalidades da vida econômica. É nesse sentido que penso que precisamos ir além da economia, ou seja, repensar a economia com base nas suas origens, como uma ciência organicamente integrada à questão do bem viver e da ética. E não como uma mecânica dos interesses individuais de cuja interação resultaria, de forma não intencional, não voluntária, maior riqueza e, portanto, supostamente, maior bem-estar”, esclarece.

O professor também comenta a atuação dos líderes políticos que, preocupados com o crescimento econômico, não estão atentos às questões ambientais. Em relação aos governos de esquerda e a um projeto que minimize as desigualdades sociais, ele enfatiza que “as grandes aspirações emancipatórias que marcam os movimentos socialistas desde o início do século XIX terão que ser concebidas hoje no âmbito de uma sociedade em que mercados e empresas privadas terão um papel decisivo e que não será esvanescente”. Uma discussão profunda, assegura, consiste em “repensar o mercado, vislumbrar a possibilidade de fazer dele um dos mais importantes instrumentos de transformação social. Mas não se trata absolutamente de suprimi-lo, nem imaginar que é possível ter uma instância exterior ao mercado que o controlasse e que seria o Estado”.

Ricardo Abramovay é graduado em Filosofia, mestre em Ciência Política e doutor em Sociologia. É professor titular do curso de Economia da Universidade de São Paulo – USP.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Quais serão os temas mais críticos para o Brasil na Rio+20, considerando a agenda ambiental brasileira?

Ricardo Abramovay – A grande dúvida é que papel o Brasil, como liderança global, vai exercer na Rio+20. Esse papel será o de se adaptar à desconfiança que os temas ambientais veem suscitando cada vez mais no G-77, como se eles fossem sinônimo de protecionismo por parte dos países desenvolvidos, como se fossem antagônicos às grandes metas do desenvolvimento? Ou, ao contrário, o Brasil tentará mostrar para os outros países do G-77 que, submeter o comércio mundial a regras civilizatórias referentes ao trabalho e à manutenção dos serviços dos ecossistemas, dos quais dependemos, pode ser um fator fundamental não só para a sociedade, mas também para a própria prosperidade dos negócios?

Trata-se de dois caminhos antagônicos, e os documentos até aqui produzidos (o Rascunho Zero e o documento brasileiro) flertam com a ideia de que temas ambientais são formas usadas para impor barreiras comerciais não tarifárias. Essa ideia traz um prejuízo muito forte para o avanço da discussão global sobre o desenvolvimento sustentável.

IHU On-Line – Você tem uma visão otimista da economia verde, mas essa percepção não é um consenso entre ambientalistas, pesquisadores, líderes políticos e empresas. Alguns alegam que se trata de uma mercantilização das questões ambientais pela economia, e outros veem na economia verde a alternativa para pensar um mundo sustentável. Como debater e avançar na Rio+20, se cada uma das partes tem uma compreensão diferente do que seja economia verde?

Ricardo Abramovay –
As críticas feitas por países como Cuba, Bolívia, Venezuela, Equador e alguns países do Caribe, na reunião da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe – Cepal em novembro de 2011, sobre a Rio+20, são procedentes. Por mais que se consigam avanços tecnológicos no sentido de melhorar o uso dos recursos ecossistêmicos dos materiais e da energia, e por mais que se avance em direção de energias renováveis, tudo isso é largamente insuficiente para enfrentar os grandes problemas socioambientais do século XXI. Então, reconhecer a importância das inovações tecnológicas embutidas na ideia de economia verde não significa dizer que ela (a economia verde) e, muito menos, o suposto crescimento verde são capazes de resolver os problemas que temos pela frente.

Para resolver essas questões, faltam duas coisas. A primeira delas resulta do fato de que, por mais que a economia verde tenha avançado, isto é, por mais que sejamos capazes de produzir cada dólar, euro, yuam ou real emitindo menos por unidade de dólar e usando menos material por unidade de dólar, isso não é suficiente para dar conta dos problemas ambientais do planeta. Nos últimos 20 anos a economia global produziu emitindo 21% a menos de gases de efeito estufa por dólar, e consumindo 23% menos de materiais (relativamente a cada unidade de valor levada ao mercado) do que há duas décadas. Só que o crescimento da economia mundial foi tão espantoso que as emissões em termos absolutos, nesses 20 anos, aumentaram 39%, e o consumo de materiais aumentou 41%. Isso mostra que é redondamente falsa a expectativa de que se pode continuar com o pé no acelerador do crescimento e, por outro lado, que se possam introduzir inovações tecnológicas que mudariam a composição e os métodos produtivos para prosseguir no ritmo atual de expansão da economia mundial.

IHU On-Line – Os líderes políticos têm consciência de que não é mais possível crescer dessa maneira?

Ricardo Abramovay –
Deveriam ter, porque esses dados que citei se encontram nos principais documentos internacionais produzidos pelas Nações Unidas e pelas mais importantes consultorias globais.

Portanto, a desconfiança dos países que mencionei anteriormente com relação à economia verde tem razão de ser. Essa desconfiança só será atenuada caso se consigam associar as inovações tecnológicas da economia verde – que são importantes e necessárias – a dois elementos decisivos: limites e luta contra as desigualdades. Não é possível imaginar que os andares superiores da pirâmide social mundial continuem com seu atual consumo de recursos na expectativa de que a economia verde seja capaz de propiciar que todas as pessoas tenham acesso a esse mesmo patamar. As contas não fecham: não há energia e materiais suficientes para fazer isso.


IHU On-Line – Como os tomadores de decisão econômica tendem a se apropriar desse conceito de economia verde? Corre-se o risco de novamente mercantilizar a questão ambiental, como aconteceu na Revolução Verde, em que se aumentou a produção de alimentos, mas até hoje não se resolveu o problema da fome, sem falar na ampliação do uso de agrotóxicos? As aspirações do mercado e das corporações são as mesmas daqueles que querem um planeta sustentável? As empresas estão dispostas a fazer transformações sociais?

Ricardo Abramovay –
As empresas agem por interesse. O interesse delas é, antes de tudo, sobreviver. Mas dizer simplesmente que as empresas visam somente o lucro e não estão preocupadas com as questões socioambientais é ingênuo. Sobretudo, no que se refere às grandes corporações, porque elas fazem estudos prospectivos relativos ao que será o mundo nos próximos 50 anos e procuram se organizar estrategicamente em função disso. Então, o que domina hoje o ambiente corporativo – se não domina ao menos tem uma forte influência – é a ideia de que estamos transitando de um mundo no qual o básico na inovação é melhorar a produtividade do trabalho e do capital para um mundo onde o mais importante desafio da inovação é melhorar a quantidade e a qualidade de bens de consumo e serviço que se consegue obter da mesma quantidade de matéria e de energia, emitindo e poluindo menos.

Por que as empresas estão preocupadas com isso? Por razões duplamente materiais: por causa do seu “próprio bolso”; e também pela consciência – e isso é inédito – de que matéria, recursos bióticos e energia não são infinitos e, portanto, os critérios e parâmetros para seu uso terão de ser mudados. Além disso, tem uma questão adicional que é a influência da sociedade civil sobre as empresas. Essa influência foi muito importante com relação à indústria do tabaco, cuja importância tende a declinar em função da imensa pressão social. De certa forma, a indústria automobilística, cada vez mais, também é vista dessa forma. As pessoas que vivem nos centros metropolitanos se sentem mais felizes quando conseguem organizar sua vida sem automóvel em comparação a quando conseguem acesso ao ele. A indústria agroalimentar também não poderá manter a atitude predominante até aqui de produzir alimentos que geram obesidade e tentar compensar isso colocando nos bairros pobres, quadras de esportes para as pessoas fazerem exercícios.

IHU On-Line – De que maneira a economia de baixo carbono poderia fomentar a indústria nacional e interferir no processo de desindustrialização?

Ricardo Abramovay – Foi anunciada uma medida segundo a qual o Brasil levará para a Rio+20 a ideia de que as compras públicas em todo o mundo devem ser pautadas por critérios de sustentabilidade. Isso é um elemento positivo. Mas quando se observa o que está acontecendo em termos de política industrial desde o início do atual governo, e quando se considera que estamos no ano da Rio+20, percebe-se que há distância entre desenvolvimento sustentável e as preocupações com relação à desindustrialização. Cito um exemplo: o jornal Valor Econômico publicou, no início de março, um balanço das ações do governo federal para atenuar o quadro de desindustrialização pelo qual o Brasil está passando. Nessa página do Valor há uma tabela com 16 medidas que foram tomadas desde o início do governo, e seis medidas que foram prometidas. Dessas 22 medidas, nenhuma tem relação com a economia verde. As medidas do governo, por outro lado, são de incentivar o crédito, conceder isenções fiscais, subsídios, etc. e, como sempre, com forte ênfase no setor automobilístico.

O Brasil está na contramão de países como a China, Correia do Sul e EUA. Duas semanas depois da publicação dessa reportagem, houve um encontro entre os 28 principais industriais brasileiros e a presidente Dilma. O único momento em que a questão ambiental apareceu foi quando o representante da Vale se queixou da lentidão no licenciamento ambiental.

Ou seja, o Brasil fez algo muito importante do ponto de vista do clima, que foi reduzir o desmatamento, que era de 24 mil km² em 2004 para sete mil km² hoje. Mas temas como a questão urbana, a mobilidade e o crescimento industrial estão completamente dissociados da economia verde. É como se a economia verde fosse uma espécie de tema florestal. Nesse sentido, o Brasil está muito aquém do necessário para um país que será sede da Rio+20.

IHU On-Line – Pode citar alguns exemplos das iniciativas que visam alcançar maior eficiência energética e material, gerando menos poluição e impactos ao meio ambiente, que já estão sendo implantadas na China e na Coreia do Sul?

Ricardo Abramovay – O ritmo global da transição para a economia verde é muito mais lento do que deveria ser. Em todo caso, há exemplos importantes nos carros elétricos, em residências que não só consomem menos energia que o habitual, mas chegam a fornecer energia para a rede e nos investimentos em eólica e solar, sobretudo vindos da China. O planejamento urbano também recebeu sinais positivos, com cidades sendo pensadas em função das pessoas, e não dos carros. Esse é um dos elementos mais importantes para se conseguir compatibilizar a vida social com os ecossistemas. Cidades sustentáveis são uma grande esperança de que os limites não sejam destrutivos no sentido de bloquear as realizações das pessoas. Pelo contrário, espera-se que o enfrentamento desses limites traga para os indivíduos as maiores possibilidades de eles viverem uma vida que vale a pena ser vivida, uma vida melhor e não pior. Ou seja, uma vida em que uma pessoa não fique três horas parado dentro de um carro, em que as pessoas possam trabalhar proximamente de suas residências para que conheçam as pessoas do seu bairro e que vivam num circulo local e, ao mesmo tempo, cosmopolita. Isso porque as pessoas estão conectadas, ligadas às redes sociais.

IHU On-Line – Como imagina que seria a lógica de funcionamento das indústrias da economia de baixo carbono, considerando que hoje há muita pobreza no entorno das regiões nas quais estão instalados os portos, as mineradoras e as hidrelétricas? No caso da construção de um campo de energia eólica, poder-se-ia criar um bolsão de pobreza também?

Ricardo Abramovay –
Hoje uma das grandes preocupações das mineradoras, por pressão da sociedade, é como será possível extrair minérios – porque eles são necessários – de maneira não predatória. Isso depende menos da vontade das empresas do que do ambiente em que elas estão atuando. O Brasil tem uma tendência a fazer uma mineração cada vez menos predatória. Nos países andinos, minha impressão é que os problemas socioambientais da mineração são bem mais graves do que no Brasil. Ainda é cedo para saber que regime de trabalho fazendas de energia eólica irão implantar. Mas no Nordeste brasileiro, por exemplo, elas já estão sinalizando algo positivo que são novas fontes de renda para agricultores familiares em cujas terras vão se instalar.

IHU On-Line – Quando o economista francês Serge Latouche esteve na Unisinos, disse que não conhecia o termo economia de baixo carbono, mas sim pós-carbono. De todo modo, ele argumenta que para resolver os problemas ambientais era preciso atuar além da economia. O senhor concorda com essa percepção? A resolução da questão ambiental passa pela economia ou está para além dela? Pensar em uma economia de baixo carbono é significativo para as transformações necessárias neste momento, ou é preciso ir além da economia?


Ricardo Abramovay – Nas línguas latinas, a palavra economia serve para dizer coisas que em inglês são diferentes. Ir além da economia pode significar ir além da Ciência Econômica (Economics). Isso sem dúvida é verdade, porque a Ciência Econômica padece de um duplo vício. De um lado ela, afirma-se como ciência à medida que se separa da ética, porque as decisões dos atores são tomadas em função de seus ganhos. Então, imagina se você tivesse um restaurante, e eu entrasse aí. Você não irá reduzir o preço do almoço porque eu sou eventualmente simpático a você. Quer dizer, as relações econômicas não passam por relações pessoais, e essa é a condição de eficiência. Nesse sentido, a economia se emancipa da ética. É importante essa emancipação. Em segundo lugar, a Ciência Econômica se afirma como ciência à medida que se emancipa da natureza. O nosso desafio maior, para o qual a Ciência Econômica tradicional não está municiada, é reintegrar a ética à economia, e a natureza à sociedade. Nesse sentido, concordo que temos de ir além da economia verde e da Ciência Econômica, da Economics.

Mas a economia real (em inglês, a Economy), entendida como o uso que a espécie humana faz dos recursos ecossistêmicos necessários à sua reprodução, como ciência do metabolismo, da relação entre a espécie humana e os meios dos quais ela dispõe para viver, não será suprimida nunca, ao menos enquanto a humanidade existir. Mas acho que não era disso que o Latouche falava. Ir além da economia, no fundo, para ele, é ir além do mercado. Claro que tem que ir além do mercado. Isso é necessário, porque tem de se fazer da economia uma ecologia social. Nosso grande desafio intelectual e político consiste em pensar como podemos nos organizar para usar os recursos de que dispomos buscando produzir cada vez mais bem-estar. Quando se fala de ir além da economia, do que se está falando? De ir além do mercado? Sim, isso é necessário. Mas o que isso significa? Ir além do mercado para fazer um planejamento central? Duvido que Latouche concorde com essa ideia. Se é ir além do mercado no sentido de que o crescimento não pode ser a orientação geral, segundo a qual se norteia o uso dos recursos, aí então a concordância com esta ideia é, felizmente, crescente e atinge segmentos do próprio mainstream da ciência econômica..

IHU On-Line – Qual seria, então, um novo projeto para a economia? Os Estados ainda precisam interferir mais no mercado financeiro?

Ricardo Abramovay –
Imaginar que os Estados sejam capazes de dar conta do desafio que nós temos é ingênuo. Os Estados têm um horizonte de curto prazo e, muitas vezes, de muito mais curto prazo do que as empresas. Os Estados tendem a planejar em horizontes relativamente curtos e, mesmo quando planejam em horizontes longos, a sua gestão é muito menos clarividente do que habitualmente se supõe. Isso não significa abolir o planejamento, que é absolutamente decisivo. Muito menos as imposições legais que orientam a conduta dos agentes econômicos. Significa, isto sim, que o planejamento do uso dos recursos ecossistêmicos não responde mais à dicotomia convencional de um mercado supostamente cego e de um Estado visionário.

Hoje, temos dispositivos extremamente poderosos de conhecimento da vida social através das mídias digitais. Para se ter uma ideia: um smart phone hoje tem a mesma potência computacional do Programa Apollo, que foi para a lua em 1969. Essa potência está nas mãos das pessoas. O professor Ignacy Sachs conta que o planejamento econômico na Polônia nos anos 1950 era baseado no ábaco, um antigo instrumento de cálculo. Imagine as possibilidades de planejamento que os dispositivos digitais contemporâneos oferecem. Ainda mais que são descentralizados e estão nas mãos das pessoas. A compatibilidade entre planejamento e descentralização é muito maior do que já foi na história humana. Na tradição marxista, o planejamento seria descentralizado porque haveria assembleias, conselhos com pessoas participando, que emitiriam sinais sobre o que a sociedade quer, etc. Só que isso não funciona, resulta em autoritarismo; é ineficiente. Mas é claro que os preços não podem ser os únicos vetores informativos sobre o que é a demanda social. E os processos cooperativos aos quais a economia da informação em rede abre caminho têm um potencial transformador extraordinário.

IHU On-Line – Nesse sentido, qual a relevância das articulações em rede, tais como aquelas do Occupy Wall Street?

Ricardo Abramovay –
São muito relevantes! Porque movimentos como esse representam, em primeiro lugar, uma denúncia contra a injustiça. Houve nos países desenvolvidos um processo impressionante de reconcentração de renda. A concentração de renda nos EUA, hoje, atingiu o nível que tinha em 1929, depois de ter caído durante todo esse período. Em 1980, 1% mais rico da população americana ficava com 8% da renda; hoje, esse mesmo percentual fica com 24% dela. Triplicou a participação na renda do 1% mais rico.
Comunidades virtuais

Mas tão importante quanto esse movimento, digamos assim, que assume um caráter mais espetacular e de rua, é um movimento mais difuso que se manifesta em forma de organização, de comunidades virtuais voltadas a produzir bens e serviços seja de maneira gratuita, seja de maneira paga. Um exemplo disso é a Wikipédia, que é o sétimo site mais visitado da internet, tem 300 milhões de visitas por mês e produz algo que é extremamente importante, conhecimento. A qualidade da Wikipédia é totalmente comparável à qualidade da Enciclopédia Britânica, que é feita por especialistas. A Wikipédia é feita quase que integralmente, com exceção de uma pequena equipe administrativa, em caráter voluntário e gratuito e produz uma riqueza impressionante. O Software Livre também. Inclusive, algumas empresas, como a IBM, que é uma empresa privada, se apoiam em software livre para muitos dos serviços que oferecem. Ou seja, há um borrão, uma mistura entre o mercantil, o privado e o público – o colaborativo que abre horizontes muito promissores para o funcionamento da vida econômica.

Portanto, o debate é se a cooperação humana vai poder triunfar sobre o simples autointeresse ou não. O que as mídias digitais propiciam é que essa cooperação humana ganhe uma eficiência em uma escala não paroquial completamente inédita, que abre horizontes que não conseguimos imaginar quanto à sua fertilidade.

IHU On-Line – Então a mudança na economia, na política e nos rumos do mercado financeiro passa por uma participação do cidadão através das redes?

Ricardo Abramovay –
São mudanças decisivas no próprio sentido, nos objetivos, nos propósitos da vida econômica. Essa que é a questão básica da nossa conversa. Para a ciência econômica (a Economics), o sentido da vida econômica não é algo que deva ser questionado: porque cada indivíduo vai cuidar de si e o resultado vai ser o melhor para todo mundo. Isso talvez fosse verossímil em um mundo de três bilhões de pessoas. Mas em um mundo tão desigual e rumando para 10 bilhões de habitantes, temos que nos perguntar para que se produz e quais são as finalidades da vida econômica. É nesse sentido que penso que precisamos ir além da economia, ou seja, repensar a economia com base em suas origens, como uma ciência organicamente integrada à questão do bem viver e da ética, e não como uma mecânica dos interesses individuais de cuja interação resultaria, de forma não intencional, não voluntária, maior riqueza e, portanto, supostamente, maior bem-estar.
IHU On-Line – A segunda proposta da Rio+20 é pensar uma governança mundial. Qual deveria ser o perfil dessa governança? Ela será possível?

Ricardo Abramovay –
Ninguém sabe. Nós sabemos criar agências nas Nações Unidas e alguns acordos internacionais, mas isso está muito aquém do mínimo necessário para se enfrentar essas questões. E, mesmo assim, não estamos fazendo nem aquilo que está nas convenções já criadas. Apesar da existência de uma Convenção da Biodiversidade ratificada amplamente, o Índice Planeta Vivo do WWF apresenta redução de 30% entre 1992 e 2008 nos trópicos, decorrente de desmatamento, poluição dos mares e aquecimento global, entre outras coisas. São realizadas reuniões climáticas anuais e as condições climáticas continuam se degradando; a desertificação não para de aumentar; os países não chegam a um acordo. E a raiz disso é que, por enquanto, nenhum governo aceitou a ideia de que é necessário repensar o sentido do crescimento econômico. Não se trata de contestar o crescimento econômico por si só. Trata-se de fazer a pergunta que a Ciência Econômica habitualmente não faz: crescer para quê, para produzir o quê, para ter qual resultado na sociedade? A ideia de que o crescimento é bom porque produz empregos, impostos e um pouco de inovação é insuficiente para legitimar o que a vida econômica representa para a sociedade.

IHU On-Line – Recentemente a presidente Dilma declarou que na Rio+20 não há tempo para fantasias, referindo-se àqueles que são contrários à construção de novas hidrelétricas. Como o senhor interpreta a posição brasileira de investir em mais hidrelétricas nos próximos anos, considerando que se busca um modelo sustentável?

Ricardo Abramovay
– É normal que uma presidente diga isso. Você precisa de energia. A preocupação dela é fazer com que as coisas funcionem. Agora, o que não me parece razoável, sobretudo num país como o Brasil, é imaginar que construir hidrelétricas na Amazônia para redistribuir essa energia para o resto do país, num modelo energético altamente centralizado, seja a única maneira possível de obter segurança energética. Por mais complexa que possa ser a questão, tenho a impressão que isso é um raciocínio do século XX, não do XXI. O último livro de Jeremy Rifkin, por exemplo, menciona o esforço de produção descentralizada de energia, com a associação entre uso sustentável dos recursos e inteligência digital. É um caminho que precisa ser mais explorado.

IHU On-Line – Gostaria de retomar a questão de que os líderes políticos ainda não têm a percepção de investir nas questões ambientais. Tratando-se especificamente dos líderes de esquerda, como vê esse posicionamento? O que a impede a esquerda de lançar novas propostas?

Ricardo Abramovay –
À esquerda europeia, sobretudo, se organizou até o início dos anos 1980 a partir da ideia de que o caminho da transição para uma sociedade melhor passava por nacionalizações democráticas. Era o programa da Union Populaire na França. Nacionalizar os dez maiores monopólios do país colocaria nas mãos do Estado três quartos da capacidade de investimento. Quando o governo Mitterrand, na França, assumiu o poder em 1981, a ideia que dominou era de se estatizar e nacionalizar uma parte importante da vida econômica, fazendo com que esse segmento escapasse à lógica do mercado e passasse a obedecer a uma lógica social. Isso durou um ano e foi cabalmente revertido. E o mais impressionante é: nunca mais, em qualquer parte do mundo, a esquerda voltou a conceber um modelo de transição com esse conteúdo.
Acerto de contas
Só que não se fez um acerto de contas com esta estratégia da qual hoje ninguém mais fala. Quer dizer, havia uma estratégia que, no fundo, era de crítica ao mercado e que rumava em direção à ideia segundo a qual uma sociedade melhor é aquela em que mercados e empresas privadas vão exercendo papéis cada vez menos importantes. Posteriormente, os líderes abandonaram essa ideia, só que continuaram sendo de esquerda. Se as pessoas não concordam mais com esses valores, continuam sendo de esquerda por quê?

As grandes aspirações emancipatórias que marcam os movimentos socialistas desde o início do século XIX terão que ser concebidas hoje no âmbito de uma sociedade em que mercados e empresas privadas terão um papel decisivo e que não será esvanescente. Os equipamentos intelectuais que tínhamos para pensar a emancipação social, quando a estratégia era a nacionalização democrática, não foram substituídos por um corpo conceitual que nos permita pensar estes processos emancipatórios no âmbito de uma sociedade em que mercados e empresas privadas são fundamentais.

O que acontece com a esquerda europeia é que, quando chega o momento da eleição, todo mundo vira anticapitalista: banaliza-se a crítica à globalização e, muitas vezes, às grandes empresas. Só que essa crítica se torna puramente retórica. A meu ver, esse impasse só pode ser substituído por uma reflexão muito séria sobre o que é empresa privada e o que são mercados. E aí justamente a economia é muito insuficiente. A sociologia, particularmente a sociologia econômica, pode dar uma contribuição muito forte.

IHU On-Line – A falta de proposta da esquerda decorre, em certa medida, do fato de ela ter sido cooptada pelo neoliberalismo ou por ela não ter conseguido avançar por si só?

Ricardo Abramovay –
A social democracia foi certamente cooptada. Mas, na verdade, o problema é que se perdeu o horizonte anterior e ninguém sabe muito bem qual é o novo horizonte. Dizer que tem que ir além da economia, quando você está numa economia em que o mercado tem o papel decisivo, é complicado. O que queremos dizer com essa discussão? Menos mercado? Menos empresas privadas? Certamente há um amplo acordo sobre o fato de que o domínio das finanças sobre a vida econômica extrapolou os limites do razoável. Mas isso é um consenso mesmo em Davos. Nossa discussão é mais profunda e se refere àquilo que até aqui foi encarado como quadratura do círculo: a possibilidade de uma economia voltada ao bem-estar das pessoas e que respeite as fronteiras dos ecossistemas, mas que se organiza fortemente com base em incentivos de mercado e em organizações privadas.

Por isso que considero tão promissores os movimentos sociais que se formam a partir da sociedade da informação em rede. André Gorz depositava imensa esperança nesses movimentos emancipatórios, embora ele não tenha visto o que me parece a salutar e promissora mistura entre economia cooperativa e economia privada no interior destes movimentos.

IHU On-Line – A partir da história do capitalismo, o senhor vislumbra o quê?

Ricardo Abramovay –
Não é salutar para uma sociedade moderna (foi o que mostrou o curto século XX) suprimir a concorrência nos mais diferentes planos, e não é salutar dissociar inteiramente a vida econômica dos ganhos que a oferta de bens e serviços pode traduzir para as pessoas. Mas, ao mesmo tempo, o que está se tornando mais claro é que o potencial da cooperação, da colaboração direta entre as pessoas na oferta eficiente de bens e serviços, é tão grande e foi tão maximizado com o advento da sociedade na informação em rede que nós vamos ter, provavelmente, uma mistura das duas coisas. Uma mistura, porém, que não pode ser encarada como, de um lado, um setor e, de outro lado, outro setor. Essa mistura vai ser um verdadeiro borrão em que o setor privado vai estar fortemente determinado nas suas ações por preceitos de natureza ética e de respeito aos ecossistemas, e o setor associativo também vai ter uma lógica competitiva, sem a qual ele acaba caindo no clientelismo. Isso já começa a ocorrer.

IHU On-Line – É como juntar um pouco das ideias da direita e um pouco das ideias da esquerda em uma terceira via, ou uma alternativa pela cooperação, como o senhor diz?

Ricardo Abramovay –
Não é uma terceira via. Ignacy Sachs usa a figura da terceira margem do rio. È fundamental repensar o mercado, vislumbrar a possibilidade de fazer dele um dos mais importantes instrumentos de transformação social. Mas não se trata absolutamente de suprimi-lo, nem imaginar que é possível ter uma instância exterior ao mercado que o controlasse e que seria o Estado. Há uma organização empresarial norte-americana chamada Benefit Corporation que vai exatamente nessa direção. Os mercados devem converter-se em meios para atingir finalidades sociais. Num certo sentido é também o que faz o Grameen Bank, quando se associa com a Danone. Mas tudo isso é muito incipiente. É muito mais forte a reflexão cética, segundo a qual nós perdemos o horizonte, do que a reflexão propositiva, que diz que se está construindo um novo horizonte.

IHU On-Line – Professor, para encerrar pode nos falar sobre o seu novo livro intitulado Muito além da economia verde, que será lançado na Rio+20, pela editora Planeta Sustentável?

Ricardo Abramovay –
Este livro nasceu de um pedido que me foi feito pela Fundação Avina para aprofundar uma reflexão sobre a nova economia, sem que soubéssemos muito bem o que este termo significava exatamente. Foi constituído um grupo, no interior da Avina que durante várias semanas realizou reuniões virtuais e isso ajudou a dar os contornos do que seria o trabalho, que acabou se tornando o livro. Não é muito habitual que organizações da sociedade civil proponham uma reflexão abrangente sobre o significado geral da vida econômica para as sociedades contemporâneas. O ponto de partida da Fundação Avina é uma categoria cara a Leonardo Boff e ao filósofo colombiano Bernardo Toro, a ética do cuidado. À primeira vista, nada poderia ser mais distante da ética do cuidado do que a frieza e a impessoalidade própria das relações econômicas numa sociedade capitalista. Muito mais do que formular ideais abstratos sobre o que poderia ser uma vida econômica em que a ética do cuidado orientasse os comportamentos, nossa reflexão conjunta procurou duas coisas. Em primeiro lugar, o texto afasta-se das soluções fáceis que consistem em dizer (como vimos no início de nossa conversa) que há soluções rápidas e indolores para a transição pela qual devemos passar.
Mutação
Talvez seja nesse sentido que Marina Silva (autora do prefácio do livro) fala que não é transição e sim mutação. Por mais importantes e necessárias que sejam as conquistas científicas e tecnológicas da economia verde, elas não são e não podem ser um atalho para permitir que a economia mundial siga no rumo do crescimento, que agora seria um crescimento sustentável. O livro se inspira no pensamento de Amartya Sen, no sentido de mostrar que o fundamental não é apenas o aumento da riqueza, mas sim o que as pessoas fazem com ela. Tão importante quanto esta abordagem crítica do crescimento econômico e da riqueza é o fato de que há sinais muito significativos de mudanças (base para as mutações das quais fala a Marina) por parte de empresas, dos Estados e de organizações da sociedade civil.
A quantidade e a profundidade crítica de documentos vindos de algumas das mais importantes consultorias globais são um sintoma disso. Forma-se um movimento empresarial incipiente, porém expressivo, contra a submissão da vida econômica aos imperativos das finanças. Mais do que isso, estamos vendo o início de um surpreendente questionamento, vindo do próprio meio de negócios, sobre o que significa valor. Isso entre estudiosos, consultorias, mas também no interior de algumas grandes empresas. Essa reflexão relaciona-se com um processo crescente de participação de organizações da sociedade civil na própria gestão empresarial. A sociedade da informação em rede abre, sobretudo, um horizonte, um conjunto de possibilidades para a cooperação que são muito promissoras. Sou muito grato à Fundação Avina por ter me aberto a possibilidade de aprofundar tais reflexões.
(Por Patricia Fachin)