sexta-feira, 22 de julho de 2011

AFINAL O CRESCIMENTO DO CONSUMO E DO CRÉDITO É BOM OU RUIM PARA A ECONOMIA?

Consumo e crédito continuam crescendo sem parar no Brasil, mas isso não é necessariamente uma coisa a ser comemorada. A combinação de juros altos e inflação é uma verdadeira bomba para o bolso do consumidor, e os economistas já falam em superaquecimento brasileiro. Em um cenário como esse, há um jeito quase infalível de o trabalhador proteger o próprio dinheiro: poupando e evitando financiamentos longos.
Nesta quarta-feira (20), os juros do país subiram novamente, para 12,5% ao ano, para manter a política do Banco Central de controle da inflação. A nova taxa afeta diretamente os gastos do dia a dia, desde a compra do mês no supermercado até o financiamento do carro novo.
Um levantamento feito pela revista inglesa The Economist mostra que o Brasil é o país que tem “uma das maiores taxas de juros reais do mundo”, o que o coloca entre os emergentes que mais “correm o risco de superaquecer”.
Os juros reais descontam a inflação da taxa nominal da economia. Aqui, essa taxa é de “quase 6%”. A revista levou em conta a Selic na casa dos 12,5% e subtraiu dela o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 6,3% (com os dados da inflação de maio).
A lista dos “emergentes ferventes” tem 27 economias, analisadas a partir de seis aspectos: juros reais, inflação, emprego, crédito, balança comercial (a diferença entre o que o país importa e exporta) e o PIB (Produto Interno Bruto, isto é, a geração de riquezas). A Argentina é a economia mais perigosamente aquecida, com dados alarmantes nos seis componentes. O Brasil e outros cinco (Hong Kong, Índia, Indonésia, Turquia e Vietnã) vêm em seguida.
No caso brasileiro, cinco dos seis indicadores preocupam, sobretudo por causa dos dados contraditórios. A inflação só saiu do controle porque o governo vem incentivando o consumo desde o final de 2008, após o estouro da crise econômica, com juros menores e mais crédito na praça para os trabalhadores.
O economista Felipe Leroy, professor do Ibmec-MG, explica que o governo agora quer reverter os juros para deixar o crédito mais caro, mas o brasileiro tem salários cada vez maiores e quer continuar consumindo independentemente do financiamento ter ficado mais pesado ou não.
O que faz a renda subir é justamente a busca mais intensa das empresas por funcionários. Por causa disso, por exemplo, é que o desemprego está em seus menores níveis da história.
- A nossa inflação é de demanda. Há procura maior do que a oferta. O culpado por toda essa inflação é o próprio governo, que baixou a Selic [em 2009], ampliou crédito para a construção civil, o que pressionou os preços de imóveis, e cortou impostos para automóveis, entre outras medidas. Tudo foi feito para aquecer a economia [na época da crise], mas agora é hora de controlar.
E como falar em renda alta é falar em mais grana rodando no mercado, uma coisa leva a outra: com um dinheirinho extra o consumidor quer comprar, o comércio vende mais, a fábrica eleva a produção e tem que contratar mais para dar conta de abastecer o mercado, pagando salários maiores, que virarão mais consumo.

Demanda e oferta
Isso não parece nem de longe uma coisa ruim, mas a questão da demanda e da oferta ajuda a explicar outro componente preocupante – e contraditório – da economia do nosso país.
O dólar nunca esteve tão desvalorizado em relação ao real desde 1999. Com a moeda americana baratinha, praticamente todos os setores da economia acabam levando vantagem ao comprar produtos de fora: seja a fábrica que precisa de uma máquina, o comércio que vende televisores e computadores, o pequeno importador que repassa perfumes e o milionário que curte carrões.
As contas de negócios do Brasil com outros países tiveram resultado negativo em maio de 2011, de R$ 6,5 bilhões (US$ 4,1 bilhões). Isso significa que o país trouxe de fora muito mais coisa do que mandou para o estrangeiro. E quem sofre é a indústria daqui.
As fábricas são obrigadas a conviver com uma enxurrada de produtos da Ásia (leia-se China) e ainda manter a produção para atender o consumo interno. Impostos altos e burocracia são a principal crítica à falta de competitividade dos itens “made in Brazil”. Mas são os importados que seguram a inflação onde está. Sem eles, ela seria muito maior, analisa o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
- Isso fica claro no segmento de serviços, que não tem como aumentar a oferta via importações. Esse setor não se beneficia da valorização cambial. E o que vemos é que o sujeito que tem uma doméstica em casa, que vai ao cabeleireiro ou que depende de qualquer outro tipo de serviço está pagando cada vez mais caro por isso. Os serviços encareceram 8,7% [acima da inflação] nos últimos 12 meses.
E COMO NÓS FICAMOS NESSA CONFUSÃO TODA?
E nessa roda cheia de contradições está o brasileiro, que vê a economia crescer como “nunca antes na história do país”. O PIB do país avançou 7,5% em 2010 – o maior número já visto nos últimos 24 anos. Em 2011, deve crescer na casa dos 4%. Então vem a questão: é hora de gastar para aproveitar o bom momento ou de poupar para caso esse superaquecimento vire um esfriamento crônico?
Os economistas são unânimes em defender mais cautela ao consumidor. Campos Neto afirma que a questão não é parar de comprar de uma vez por todas, mas analisar bem cada gasto e aprender a ter controle sobre essas despesas.
- A onda é positiva, mas temos um programa de aperto monetário na economia. Não é o momento de um endividamento excessivo. O ideal é que as pessoas evitem compromissos acentuados.
Leroy diz que não é da cultura do brasileiro poupar o suficiente para comprar as coisas à vista, tampouco se preocupar com os juros dos financiamentos longos.
- O consumidor costumeiramente não poupa, mas ele tem que ficar atento com as compras e os prazos. Tem que poupar, mas em vez de aplicar só na poupança, é interessante buscar uma renda fixa.
Segundo uma pesquisa do Instituto Assaf, as aplicações em fundos de investimento em renda fixa tiveram os melhores rendimentos dos últimos 17 anos, já que a valorização no período foi de 2.481,81% desde a criação do Plano Real. Isso significa dizer que um investimento de R$ 1.000 feito em 1º de julho de 1994 virou um montante de R$ 24.818,10.
Nesse cenário de juros maiores e inflação em alta, então, vale mais investir o dinheiro do que sair por aí torrando tudo. Em junho, o número de famílias endividadas aumentou em SP, segundo uma pesquisa da Fecomercio (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo). Quase metade de todos os consumidores da capital tem alguma conta para pagar, ou 1,683 milhão de famílias.

Três em cada dez famílias (29,4%) têm dívidas que deverão ser pagas em mais de um ano. Outros 23,2% têm o orçamento comprometido com o pagamento de dívidas por períodos entre três e seis meses. Só pouco mais de uma família a cada cinco (22,6%) pagarão as dívidas em período de três meses.
Fonte: Record e Corecon -SC

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