A Grécia, que nesta quarta-feira (29) teve mais medidas de austeridade aprovadas pelo Parlamento , vive uma forte crise fiscal que pode ter profundas implicações para outros países europeus e para a economia mundial. O país tem enfrentado dificuldades para refinanciar suas dívidas e despertado preocupação entre investidores de todo o mundo sobre sua situação econômica. Na última década, a Grécia gastou bem mais do que podia, pedindo empréstimos pesados e deixando sua economia refém da crescente dívida. Nesse período, os gastos públicos foram às alturas, e os salários do funcionalismo praticamente dobraram. Enquanto os cofres públicos eram esvaziados pelos gastos, a receita era afetada pela evasão de impostos – deixando o país totalmente vulnerável quando o mundo foi afetado pela crise de 2008, que “enxugou” o crédito mundial e deixou a Grécia em dificuldades para rolar essa dívida. O montante da dívida deixou investidores relutantes em emprestar mais dinheiro ao país. Hoje, eles exigem juros bem mais altos para novos empréstimos que refinanciem sua dívida, que supera os 355 bilhões de euros. No início de 2010, o país recorreu a um pacote de ajuda do Fundo Monetário Internacional (FMI) e da União Européia. A idéia era dar à Grécia tempo para sanear sua economia, o que reduziria os custos para que o país obtivesse dinheiro no mercado, o que ainda não ocorreu. A previsão é que o país só tenha acesso aos mercados financeiros no próximo ano. Ajustes As medidas aprovadas nesta quinta são uma tentativa de conter gastos necessária para que a União Européia e o FMI continuem efetuando os pagamentos do pacote de resgate que prometeram à Grécia e coloquem em prática um segundo pacote, cujos termos deverão ser definidos em julho. O pacote, exigido pela União Européia e pelo Fundo Monetário Internacional, inclui corte de gastos no valor de US$ 28 bilhões e prevê aumento de impostos, ajustes e privatizações, quesitos imprescindíveis para o recebimento de mais ajuda internacional. A população vem reagindo às propostas com protestos, alguns deles violentos. Muitos servidores públicos acreditam que a crise foi criada por forças externas, como especuladores internacionais e banqueiros da Europa central. Os dois maiores sindicatos do país classificaram as medidas de austeridade como ‘antipopulares’ e ‘bárbaras’. Por que a Grécia não declara moratória de suas dívidas? Se o país não fosse membro da zona do euro, talvez fosse tentador declarar a moratória, o que significaria deixar de pagar os juros das dívidas ou pressionar os credores a aceitar pagamentos menores e perdoar parte da dívida. No caso da Grécia, isso traria enormes dificuldades. As taxas de juros pagas pelos governos da zona do euro têm sido mantidas baixas ante a presunção de que a UE e o Banco Central Europeu proveriam assistência a países da região, justamente para evitar calotes. Uma moratória grega, além de estimular países como Irlanda e Portugal a fazerem o mesmo, significaria um aumento de custos para empréstimos tomados pelos países menores da UE, sendo que alguns deles já sofrem para manter seus pagamentos em dia. Se Irlanda e Portugal seguissem o caminho do calote, os bancos que lhes emprestaram dinheiro seriam afetados, o que elevaria a demanda por fundos do Banco Central Europeu. Por isso, enquanto a Europa conseguir bancar a ajuda aos países com problemas e evitar seu calote, é provável que continue fazendo isso.
A crise na Grécia pode se espalhar?
Os problemas podem se espalhar para a Irlanda e Portugal. Mesmo sem uma moratória, ainda pode haver dificuldades, já que os pacotes de resgate oferecidos a esses dois países foram estruturados para ajudar Lisboa e Dublin até que seus governos fossem novamente capazes de obter dinheiro no mercado – como no caso de Atenas. O problema real diz respeito ao que acontecerá com a Espanha, que só tem conseguido obter dinheiro no mercado a custos crescentes. A economia espanhola equivale à soma das economias grega, irlandesa e portuguesa. Seria muito mais difícil para a UE estruturar, caso seja necessário, um pacote de resgate para um país dessa dimensão.
E o Brasil?
No Brasil o risco de a Grécia não honrar suas dívidas pressiona a bolsa brasileira a fechar a níveis baixos, se aproximando dos menores patamares em um ano. Diante de um cenário de incertezas sobre o futuro da Grécia, grande parte dos investidores estrangeiros, que representam aproximadamente um terço do volume total negociado na Bovespa, acabam migrando para ativos mais seguros, como os títulos do governo brasileiro, da dívida norte-americana ou até mesmo para o franco suíço.
Com informações da BBC (http://www.amplanet.com.br/2011/06/29/entenda-a-crise-na-grecia/)
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