Se os economistas pudessem dar um jeito de serem considerados como pessoas humildes e competentes, num mesmo nível que os dentistas, seria excelente! ( J. M. Keynes, 1930).
segunda-feira, 25 de março de 2013
BERNARD PECQUER EM BLUMENAU
Bernard Pecquer, um dos maiores pesquisadores em desenvolvimento territorial do mundo estará em Blumenau no próximo dia 17 de maio. Além de Pecquer, o evento também contará com a presença da pesquisadora Claire Cerdan.
O Prof. Dr. Bernard Pecquer, da UMR PACTE - Universidade Joseph Fourier - Grenoble I, e a Professora Dra. Claire Cerdan do CIRAD, participam de um seminário que abordará a temática: " O aproveitamento de produtos tradicionais para alavancar o desenvolvimento regional".
O evento acontecerá na Fundação Cultural de Blumenau, a partir das 14:00.
segunda-feira, 4 de março de 2013
O território em pedaços
Socializo a seguir um interessante texto divulgado pelo blog do Núcleo de Pesquisas em Desenvolvimento Regional do PPGDR da FURB. O texto nos convida a refletir sobre a importância do território em um mercado cada vez mais globalizado e excludente.
O
artigo é de autoria da professora Maria Laura Silveira da USP e o original pode
ser acessado no site: http://www.controversia.com.br/index.php?act=textos&id=10927
Vale a pena acessar também o excelente blog do NPDR no endereço: http://npdr.wordpress.com/2013/03/04/o-territorio-em-pedacos-maria-laura-silveira/
Vale a pena acessar também o excelente blog do NPDR no endereço: http://npdr.wordpress.com/2013/03/04/o-territorio-em-pedacos-maria-laura-silveira/
O território em pedaços:
Para ser compreendido, o
território deve ser considerado em suas divisões jurídico-políticas, heranças
históricas e atuais conteúdos econômicos, financeiros, culturais, fiscais e
normativos, que dão conteúdo a suas regiões. É desse modo que o território pode
ser interpretado como o quadro dinâmico, material e imaterial, da vida social.
A fusão entre as forças do global, do nacional e do local determina a
interdependência entre objetos, normas e ações. Sempre a renovar-se, essa interdependência
atribui um caráter tenso à existência dinâmica do território.
Podemos falar de “território
usado”, sinônimo de “espaço geográfico” (Santos, 1994; 1996; Santos e
Silveira, 2001), que indica a necessidade de indagar sistematicamente sua
constituição. A resposta demanda qualificar e quantificar os elementos, os
atores e seus comportamentos, as heranças do passado e as intencionalidades do
futuro. As empresas, o poder público, os cidadãos e organizações diversas
configuram uma teia de técnicas, normas e ações, que autorizam e limitam
comportamentos. O espaço geográfico encarna os problemas e as soluções do seu
tempo e, por isso, tem um papel ativo e as diferenças regionais são prova
disso. É assim que as regiões e os lugares também podem ser entendidos como
atores.
Desse modo, o território usado
não é uma coisa inerte, um palco onde a vida se dá. É um conjunto indissociável
de sistemas de objetos e sistemas de ações (Santos, 1996) ou, em outras
palavras, a base material mais a vida que a anima. É o território propriamente
dito mais as sucessivas obras humanas e os próprios homens hoje.
O território revela as ações
passadas, já congeladas nos objetos e normas, e as ações presentes, aquelas que
estão a caminho de se realizar, capazes de conferir sentido ao que preexiste.
As bases materiais e imateriais historicamente estabelecidas são apenas
condições. Seu verdadeiro significado advém das ações sobre elas realizadas. O
território usado é, por isso, movimento permanente.
Assim entendido, o território é
objeto de novas perguntas: como, onde, por quem, por quê, para quê o território
é usado. E aí os atores aparecem, em permanente cooperação e conflito, mediados
pelos objetos e revelando diferente poder no uso do território.
Enfrentamos, a cada dia, um duplo
desafio. De um lado, é preciso um esforço para analisar o que existe no seu
movimento – o território usado e sendo usado – e, de outro, um esforço para
pensar o futuro e para produzir as transformações necessárias. Se nossa
preocupação é com a divisão do território, deveríamos lembrar, com Ribeiro
(2004), que há uma regionalização de fato, referida à expressão espacial e que
independe da ação hegemônica do presente, e uma regionalização como ferramenta,
isto é, uma delimitação visando implementar uma ação e, por tanto, objeto do
Estado, das corporações e dos movimentos sociais. A região encarna, segundo a
autora (Ribeiro, 2004), os interesses dos agentes diversos e a influência das
esferas da vida coletiva.
Por isso, quando quisermos
definir qualquer pedaço do território, como por exemplo uma região, ou mesmo,
uma unidade da federação, devemos levar em conta a interdependência e a
inseparabilidade entre a materialidade, que inclui a natureza, e o seu uso, que
inclui a ação humana, isto é, o trabalho e a política. Em outras palavras, é
preciso examinar paralelamente os fixos, aquilo que é imóvel como as estradas,
as ferrovias, os portos, as telecomunicações, as áreas agrícolas, de mineração
ou da indústria, e os fluxos, aquilo que é móvel como os transportes, o
dinheiro, a informação e as ordens.
A análise supõe o entendimento de
como as coisas e as ações se repartem e se relacionam, evitando a escolha
prévia ou antecipada de soluções, sejam estas científicas, sejam estas políticas.
Mas, porque sabemos que a realidade é unitária, a visão de conjunto deve
preceder e acompanhar o exercício da análise e o exercício da política.
Quando nos debruçamos sobre o
período atual, vemos que os territórios nacionais ganham acréscimos de ciência,
tecnologia, informação e dinheiro e, nesse processo, as regiões mudam suas
feições e hierarquias. É a expansão do meio técnico-científico-informacional
que não se faz sem a força ou a fraqueza da soberania política de uma nação.
Concomitantemente observa-se substituição e superposição de divisões
territoriais do trabalho, cujas manifestações mais visíveis são as remodelações
de áreas já ocupadas e a ocupação de áreas “periféricas”. Entretanto, essa
dinâmica é fortemente comandada pela política das grandes empresas, as quais
impõem uma nova repartição do trabalho, assim como novos movimentos. Envolvidas
num processo de criação de valor pela incorporação de objetos e ações modernos,
as regiões especializam-se em atividades exógenas e tornam-se compartimentos
produtivos de um mundo globalizado. Mas esses compartimentos têm vida curta,
são nervosos, pois o grande capital é movediço.
Cada período produz suas forças
de concentração e dispersão, resultado da utilização combinada de condições
técnicas e políticas, que não podem ser confundidas com as de momentos
pretéritos e que redefinem os limites. Hoje, verifica-se a difusão de um
sistema técnico comandado pelas técnicas informacionais que cria uma
concentração e uma dispersão combinadas. De um lado, as atividades modernas
tendem a dispersar-se graças às virtualidades oferecidas nas regiões distantes
dos centros mais cobiçados pelas grandes empresas e, de outro, há uma
concentração das decisões mesmo quando o comando técnico das operações
produtivas possa ser relativamente disperso. O fator de dispersão pede, por
exemplo, a presença de novos profissionais nas cidades médias das áreas mais
desenvolvidas. A vocação de consumo e as rendas dessas classes acabam por
estender as fronteiras do mercado privado e, assim, uma certa ubiquidade das
ofertas “metropolitanas” parece revelar uma indiferenciação regional.
Paralelamente, o fator de concentração aumenta o papel da metrópole no comando
financeiro, obrigando cada ponto do território a vincular-se diretamente com o
centro principal e ignorar os níveis urbanos intermediários. Isso também parece
levar à certa indiferenciação regional.
Concentrado e disperso, esse
alargamento da produção no território nacional não se perfaz sem a cooperação.
Orientada pela sua sofisticação e por complexas equações de lucro, a técnica
contemporânea permite dividir as etapas da produção no planeta, chamando uma
complexa e extensa unificação material e imaterial dos processos. As firmas
hegemônicas buscam influenciar as decisões sobre a construção e usos de novas
infraestruturas que lhes são mais necessárias. Cria-se, desse modo, uma
realidade que o poder público considera como essencial para elaborar suas
políticas e consolidar suas normas. Nessa dinâmica, as grandes corporações, os
grandes bancos, os fundos de investimento, os fundos de pensão e outros agentes
poderosos, de posse dos mais modernos sistemas de circulação de bens, pessoas e
ordens - e com força suficiente para mudar o rumo dos governos e a forma de
pensar de várias camadas sociais -, fazem do planeta o seu território, sem
ficarem presos às escalas nacional e local. Isso se faz com frequência e
velocidade antes nunca vistas. Daí a metáfora da desterritorialização, que
chama a atenção sobre essa aceleração com que os capitais hegemônicos usam os
diversos territórios nacionais, impondo mecanismos de fluidez e lucrando com o
fato de atravessar as fronteiras e com a escolha seletiva dos seus pontos de
ação. Tudo isso se constitui, outrossim, num conteúdo da política das empresas,
dos partidos e dos governos, preocupados com a modernização que esquecem, não
raro, as desigualdades regionais. A esse retrato em movimento denominamos uso
corporativo do território, do qual advem as regionalizações movediças e as
novas hierarquias regionais de um território nacional (Santos e Silveira,
2001). Despontam possibilidades de enriquecimento para algumas classes
regionais ou para novos atores que chegam de fora. Mudam o jogo de poder no
lugar, as cosmovisões e os projetos e, com isso, as condições de inserção do
lugar na política nacional e na economia internacional.
Na expectativa do desenvolvimento
regional e nacional, as políticas convergem para a especialização funcional dos
pedaços do território. Espelho da política das corporações, essa especialização
compromete os recursos fiscais regionais para completar a cooperação. Para a
equação interna da firma tal repartição territorial do trabalho ampliada é mais
rentável, porque aproveita uma combinação favorável dos fatores de produção ao
abrigo das benesses do setor público. Para o conjunto da nação, é mais onerosa,
pois a cooperação é cada vez mais feita socialmente.
Os resultados desse processo
socioespacial são, não raro, desarticulações, ingovernabilidade e uma espécie
de retorno à economia arquipélago, mesmo que agora sobre bases técnicas e
científicas. A fragmentação é também a consequência da falta de coincidência
entre “régio” e região, entre regiões do mandar e regiões do fazer. O princípio
local de organização da vida é crescentemente substituído por um princípio de
organização externo e alheio, o que nos autoriza a falar em verticalidades,
solidariedade organizacional e alienação do território (Santos, 1996). Trata-se
de uma interdependência criada organizacionalmente, isto é, pela tecnociência e
a finança. Existe mais intercâmbio entre lugares e pessoas, porém seus
conteúdos são mais normatizados e menos espontâneos. Há necessidade de mais
organização. Nessa direção, o poder público oferece, a partir dos entes
federativos, as garantias que a equação da firma precisa, como na criação de
municípios estudada por Cataia (2003).
Não se trata de imaginar que a
integração de um território advém da aceitação de uma arquitetura
político-administrativa imutável, mas de compreender que a dinâmica territorial
não depende apenas das formas senão dos seus conteúdos. A busca de mecanismos
capazes de desenvolver uma ancoragem territorial deve estar inserida na
discussão de um projeto nacional, pois a região não pode ser tomada como um
absoluto, visto que sua existência não é autônoma. Essa substituição da
solidariedade orgânica por uma solidariedade organizacional ou, em outras
palavras, a transformação do lugar da vida em compartimentos eficientes de uma
economia internacionalizada está, sob certos aspectos, fracassando. É a
consciência desse processo que desencadeia a “esquizofrenia do território”.
Eventuais novas formas políticas não deveriam reforçar tal processo.
Talvez um caminho para exorcizar
essa tendência seja tomar como ponto de partida e como ponto de chegada, na
análise e na política de Estado, a ideia do território usado por toda a
sociedade nas suas diferentes manifestações regionais, apesar da força
diferente dos agentes. O risco de não fazê-lo é imaginar que o controle de
certos pontos, a existência de uma produção especializada e internacionalizada
numa região, o predomínio das lógicas externas, a consideração de aspectos
particularizados que, certamente, arrastam outros interesses e fazem mais
vulneráveis os territórios, nos farão atingir, mais tarde, o desenvolvimento e
a justiça socioespacial.
É possível que algumas das atuais
formas de representatividade política não revelem os problemas dos lugares na
globalização, que apontam a falta de comando político do seu trabalho e de
condições para a vida das pessoas, problemas que vão além dos municípios e dos
estados. Daí uma certa ingovernabilidade do território.
Mas, nesse contexto, parece
aconselhável não perder de vista a ideia de que uma genuína divisão do
território deveria levar em conta as áreas de identidade, legitimadas pelas
próprias condições de existência que, tal como imaginadas por Milton Santos
(2000), constituíssem uma regionalização do cotidiano, fundamento da emergência
de um “quarto nível político-territorial” para que a “federação globalizada”
seja substituída pela “federação lugarizada” (Santos, 2000). Em outras
palavras, para que o território nacional seja verdadeiramente o espaço de
todos.
…
Maria Laura Silveira é geógrafa,
professora do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo (USP)
domingo, 3 de março de 2013
O que deu errado no Brasil em 2012 e o que está por vir
O artigo a seguir foi extraído do
um boletim informativo mensal escrito para a empresa VOGA.
De
acordo com as mais recentes estimativas, a economia brasileira deve apresentar
um crescimento do PIB de não mais do que 1% em 2012. Os números
recentemente divulgados para o terceiro trimestre surpreenderam negativamente o
governo, o qual, segundo as palavras do próprio ministro Guido Mantega, havia
previsto um crescimento anualizado de 2% — e tudo isso apenas três dias antes
de o IBGE divulgar seus dados.
Com
efeito, o pavoroso histórico de Mantega em prognosticar os números da economia
solapou sua credibilidade a tal ponto, que a revista britânica The Economist abandonou seu notório entusiasmo em
relação ao Brasil e sugeriu a Dilma que demitisse Mantega de seu cargo na
Fazenda.
Dado
que os prognósticos para o PIB de 2013 também foram revisados para baixo, é de
se pensar: o que houve com a famosa "decolagem" da economia
brasileira celebrada pela própria The
Economist na capa de sua
edição de 12 de novembro de 2009? Por que a economia brasileira teve um
ano tão ruim?
Alguns
argumentam que a culpada de tudo é a crise financeira mundial. Mas, se é
assim, então como é que outras economias emergentes estão crescendo muito mais
rápido que o Brasil? Similarmente, poderíamos argumentar que o acentuado
crescimento da economia brasileira em 2010 deveu-se a uma pujante economia
global, certo? Seria a atual situação culpa da China e seu mais vagaroso
crescimento? Muito difícil e ilógico, pois o superávit comercial do
Brasil em relação à China é de apenas 0,6% do PIB. Logo, ao contrário do
que se imagina, as dificuldades brasileiras não devem ser procuradas no
exterior. Os problemas brasileiros são domésticos. E Brasília está
no epicentro desta situação aflitiva.
A
julgar a quantidade e a frequência de novas medidas anunciadas pelo governo em
2012, um estrangeiro imaginaria que o Brasil está enfrentando uma severa
crise. O governo concedeu vários incentivos fiscais para seus setores
favoritos, os impostos sobre empréstimos estrangeiros foram meticulosamente
manipulados, o Banco Central interveio seguidamente no mercado de câmbio, a
taxa oficial de inflação — o IPCA — foi manipulada por meio de alterações nas
alíquotas de impostos que incidem sobre vários produtos, os preços vigentes em
vários setores sofreram interferência estatal, a dívida e o déficit público foram
"controlados" por meio de criativos mecanismos contábeis, os bancos
públicos foram obrigados a expandir o crédito para satisfazer interesses
políticos, as importações foram restringidas, as exportações foram subsidiadas,
empresas estatais e privadas operaram sob ordens diretas da Fazenda (Petrobras
e Vale, para ficar nas principais), e, finalmente, as tarifas de energia
elétrica foram reduzidas por decreto. Todas essas medidas representam
apenas um vislumbre da hiperatividade exercida pelo atual governo brasileiro
sobre a economia.
Uma
das principais consequências de toda esta interferência estatal na economia é a
incerteza que ela gera. Investir nesse cenário requer não apenas uma
ótima dose de julgamento empreendedorial, mas também de percepção política, de
modo que um empreendedor deve estar plenamente apto a adivinhar o que o governo
fará a seguir. Não deveria ser nenhuma surpresa, portanto, a estagnação
da economia, uma vez que o investimento é uma das principais variáveis que
derrubou o PIB do terceiro trimestre.
A persistente inflação de preços
No artigo de
maio, havíamos dito que havia uma grande chance de o Banco Central
conseguir atingir a meta do IPCA (4,50%) ao final deste ano. Hoje está
claro que essa previsão foi incorreta.
O
problema é que subestimamos completamente a capacidade do Banco Central de inflacionar
a oferta monetária. Embora a expansão do crédito esteja arrefecendo, a
impressora sob o comando do senhor Alexandre Tombini está operando em alta
rotação. Literalmente. Desde maio de 2012, a quantidade de
papel-moeda em poder do público vem crescendo firmemente a uma taxa anual
superior a 10%. Nos últimos 15 anos, a média de crescimento desta
variável foi de 15%. Poucos bancos centrais no mundo conseguem igualar
este recorde.
E o
que os números oficiais nos dizem? Uma semana após o IBGE ter publicado
os desanimadores números do PIB, o IPCA de novembro foi divulgado: 0,60%, o que
totalizou um aumento de 5,53% nos últimos 12 meses. Outra grande
frustração para o governo.
Talvez
o maior perigo em potencial trazido pela atual tendência inflacionária esteja
na chamada Lei de
Goodhart — assim
nomeada em homenagem a Charles Goodhart, ex-assessor do Banco Central da
Inglaterra —, a qual diz que uma vez que um indicador social ou econômico adquire
status de meta de política econômica, ele perde o conteúdo informativo que
outrora o qualificara a servir como meta. Em outras palavras, tão logo um
indicador é escolhido para mensurar a eficácia de políticas sociais e
econômicas, ele irá perder todas as informações significativas que ele fornece,
pois o governo irá manipulá-lo como mais lhe aprouver.
Boa
parte das reduções de impostos adotadas este ano afeta
diretamente o IPCA. O mesmo vale para o preço da eletricidade,
que possui um peso considerável no índice de inflação oficial.
Adicionalmente, e nada surpreendentemente, o senhor Mantega já começou a
questionar o IBGE a respeito de seus números para o PIB. De fato, parece que
Charles Goodhart tinha razão.
Com
a taxa SELIC permanecendo em 7,25% por um bom período de tempo, e com os
agregados monetários (base monetária e M1) crescendo aproximadamente 10% ao
ano, será necessária muita engenhosidade para trazer o IPCA para mais perto de
sua meta de 4,50% em 2013.
Taxa de juros, crédito e bancos públicos
Sei
que a questão do crédito bancário já foi abordada extensivamente em outros
artigos, mas como o governo simplesmente não consegue deixar se
intrometer neste setor, é impossível evitar comentar o quão equivocada é esta
política e o quão perigosa ela pode ser para a saúda da economia, pública e
privada. Em abril, chamamos atenção para a reestatização
do crédito que estava
sendo implementada. Desde então, tal tendência não foi revertida.
Muito pelo contrário: dada a perseverança do governo em pressionar os bancos
estatais a oferecerem empréstimos baratos e abundantes, a quantidade de crédito
sob controle estatal será rapidamente a metade do crédito total no país.
Adeus "economia de mercado".
O
Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal estão adquirindo novas fatias de
mercado, especialmente no ramo de empréstimos ao consumidor, ao passo que os
bancos privados seguem relutantes em se curvar às exigências do governo e
reduzir ainda mais seus spreads. Enquanto os empréstimos dos bancos
privados para os consumidores cresceram 6% em 12 meses, os bancos estatais
aumentaram seus empréstimos em quase 30% durante este mesmo período.
Ainda
em meados do ano passado, antecipamos que o BB e a CEF necessitariam, mais
cedo do que os analistas imaginavam, de uma injeção de capital do governo, caso
contrário sua alavancagem e seu índice de Basileia piorariam. Em
setembro, o Tesouro anunciou que ambas as instituições ganhariam R$8 e R$13
bilhões respectivamente, em capital híbrido cujos termos "seriam decididos
pelo Ministro da Fazenda em uma data posterior".
Não
obstante, mesmo com todas estas medidas extraordinárias para aumentar os
empréstimos e reduzir os spreads, esta fonte de (insustentável) crescimento
está atualmente exaurida. As famílias brasileiras estão fortemente endividadas.
Graças aos pequenos prazos concedidos aos empréstimos e às altas taxas de juros
cobradas, os brasileiros comprometem mais de 20% de sua renda disponível para o
serviço de suas dívidas, praticamente o dobro da média americana. Isso explica
parcialmente por que o crédito vem crescendo a um ritmo mais moderado, não
obstante todos os esforços do governo; a demanda por empréstimos não pode ser
estimulada magicamente. Portanto, do lado da demanda, o governo parece
incapaz de reativar o PIB.
E
quanto ao lado da oferta? Pode o investimento fazer o PIB crescer, como
fez em 2010? Sim, isso é possível, mas à custa de uma alocação de capital
totalmente errônea e insustentável, descolada da genuína demanda — mais
especificamente, à custa de investimentos ruins. Vamos explicar.
Durante
a última década, houve três momentos em que a Formação Bruta de Capital Fixo
(FBCF) cresceu a uma taxa muito mais alta do que a de sua média de 5,4% ao
longo dessa mesma década: em 2007, quando chegou ao seu até então pico de
13,9%; em 2008, quando foi de 13,6%; e finalmente em 2010, quando chegou a
incríveis 21,3%. Esta foi a primeira vez desde a introdução do real em
que a FBCF aumentou mais de 20% — resultado direto das taxas de juros
historicamente baixas e da generosa caridade do BNDES para com as grandes
empresas. Em outras palavras, uma precificação errada do capital
estimulou uma profusão de investimentos no Brasil.
Na
maioria dos países, as taxas de concessão de crédito tendem a andar em
simultâneo com o crescimento nominal do PIB. "A maneira de entender
isso", escreveu Jim Walker, fundador e presidente da Asianomics Ltd., "é que a
taxa de crescimento do PIB (renda) deve ser suficiente para sustentar o serviço
da dívida. Ela é também um sinal para os produtores: o capital não é
gratuito".
Gillem
Tulloch, analista da Forensic
Asia, empresa irmã da Asianomics,
explica que "uma taxa de juros livre de risco é geralmente similar à taxa
de crescimento nominal do PIB, o qual é um bom substituto para a taxa de
crescimento dos lucros". Assim, em economias em que "há menos
repressão financeira", conclui Tulloch, "o crescimento nominal do PIB
e a taxa de juros livre de risco geralmente são similares".
No
Brasil, um bom mensurador para o custo do capital é a taxa do CDI (Certificados
de Depósito Interbancário — taxa de juros para empréstimos interbancários, os
quais são lastreados por títulos do Tesouro). Durante a maior parte da
década, as taxas do CDI se mantiveram bem acima do crescimento nominal do PIB,
o que implicava um alto custo para o capital. O pequeno prazo de
maturação da dívida pública e as altas expectativas inflacionárias certamente
contribuíram para este fenômeno.
O
que os anos de 2007, 2008 e 2010 têm em comum é que, durante a maior parte
deste período, as taxas do CDI foram menores que a taxa de crescimento nominal
do PIB (gráfico 1), o que sugere que o capital estava precificado abaixo do seu
real valor de mercado. O pequeno boom econômico daqueles anos produziu a
consequente estagnação de 2011 e 2012.
Portanto,
considerando-se a tépida atividade econômica, pergunta-se: como exatamente o
governo está tentando fazer o investimento voltar à sua trajetória de crescimento?
Exato, você acertou. Estimulando novas rodadas de crédito abundante e
barato. Precificar o capital a um valor abaixo do de mercado é a política
oficial do governo.
O grande elefante na loja de porcelana
Já
mencionamos a injeção de capital no BB e na CEF. Agora temos de abordar o
grande elefante na loja de porcelana: o BNDES. Desde 2009, como parte do
anticíclico Programa para a Sustentação do Investimento (PSI), o Tesouro
transferiu quantias colossais de dinheiro para o banco de desenvolvimento.
De início, tudo seria apenas temporário. No entanto, a cada ano, o
programa foi sendo prolongado. Em 2013, já é esperado que o BNDES irá
receber mais R$100 bilhões do governo. Isso não é mixaria.
Atualmente, os empréstimos concedidos pelo BNDES representam um quinto do
crédito total no país. E o que é ainda mais perturbador é o fato de que o
Tesouro Nacional tem sido a principal fonte de financiamento para o BNDES, e
suas concessões de crédito têm sido direcionadas majoritariamente para as indústrias
favoritas do governo, empresas grandes que não teriam dificuldades para obter
crédito no mercado.
Para
intensificar os problemas, o capital está sendo precificado a valores cada vez
menores. Em 2013, a
taxa de juros para os empréstimos subsidiados estará entre 3 e 5%, em termos nominais. Isso significa
taxas de juros reais negativas. Ou seja, o governo está basicamente
pagando as grandes empresas para que elas peguem dinheiro emprestado.
Outros programas federais constitucionalmente obrigatórios estão oferecendo
empréstimos a uma inacreditável taxa de 2,5%. Em suma, o capital é
realmente gratuito — quando concedido pelo governo, é claro.
Voltando
à nossa pergunta sobre o PIB, pode o investimento fazer com que ele cresça a
uma taxa maior em 2013? É claro que pode. Mas com o capital sendo
concedido a custo quase zero, investimentos errôneos e insustentáveis serão a
consequência natural. Algumas empresas serão claramente beneficiadas,
talvez setores inteiros; mas isso não pode fazer com que toda a economia fique
mais rica. Portanto, embora o investimento privado possa aumentar em
2013, isso ocorrerá à custa de menores investimentos em conjunto com a
liquidação de investimentos ruins em um período posterior. É impossível
precificar erroneamente o capital e ao mesmo tempo evitar as necessárias
correções na estrutura de produção da economia.
Infelizmente,
as consequências de longo prazo destas políticas não serão limitadas ao setor
privado: as finanças públicas do Brasil dificilmente passarão incólumes.
A situação fiscal do governo, ao contrário das
alegações, não está nada em ordem
A
tendência é bastante clara: a dívida líquida do Brasil em relação ao PIB tem
estado em declínio ao longo dos anos. Guido Mantega e sua equipe não se
cansam de ostentar os números. Mas o que eles nunca mencionam são os
créditos concedidos pelo Tesouro ao BNDES e a outros bancos estatais, que
chegam a quase R$400 bilhões, praticamente 25% do total da dívida
líquida. Quando se leva estes números em consideração, a dívida líquida
em relação ao PIB sobe de 35,2% para 44,1%.
No
entanto, alguns podem argumentar que, dado que tais empréstimos são um ativo do
governo, seria perfeitamente justificável levá-los em consideração no
cálculo. Certo?
Errado.
Além
do custo fiscal trazido pelas taxas caridosamente subsidiadas pelo Tesouro, o
BNDES pega dinheiro emprestado do governo (o Tesouro emite títulos para
conseguir este dinheiro) a um período médio de amortização de mais de 30
anos. Não, não houve nenhum erro de digitação aí. São realmente
trinta longos anos. Paralelamente, a dívida pública possui um prazo médio
de duração de quatro anos. Consequentemente, o governo tem de refinanciar esses
R$400 bilhões a cada quatro anos para poder dar continuidade às extravagâncias
do BNDES, e ele tem de repetir este processo mais sete vezes antes de o banco
de desenvolvimento começar a devolver ao Tesouro seus primeiros centavos.
O
BNDES certamente já deixou sua marca na história do sistema bancário
mundial. Ele alcançou o nirvana almejado por qualquer banqueiro: toma
empréstimos a prazos extremamente longos, concede empréstimos de maturação
bastante curta, e, em todo este processo, aufere altos lucros oriundos de um
spread positivo.
Do
lado do Tesouro, embora a dívida líquida apresente trajetória declinante, a
dívida bruta segue crescente, e já chegou aos 60% do PIB. Mas ninguém do
governo se incomoda com este coeficiente. Tudo o que importa é que a
dívida líquida está visivelmente em um caminho cintilante. Para entender
melhor a absurdidade desta métrica, considere isso: caso o Tesouro transferisse
R$1,5 trilhão para o BNDES, a dívida líquida do Brasil em relação ao PIB iria
instantaneamente cair para zero. Esperemos que o senhor Mantega jamais
leve este exemplo hipotético a sério.
Por
outro lado, há um quesito que ele poderia levar bastante a sério: a meta do
superávit primário, o qual, diga-se de passagem, também vem apresentando um
declínio contínuo. Só que, neste caso, isso não é um bom sinal.
Desde a introdução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo
astutamente aprovou uma legislação que o permite "descontar" os
investimentos do PAC do cálculo do superávit primário sempre que se tornar
claro que a meta não será alcançada. Em 2012, mesmo após ter recorrido a
este subterfúgio, o Tesouro dificilmente irá alcançar a meta de 3% de superávit
primário em relação ao PIB. Por sorte, a acentuada redução da taxa SELIC
está aliviando o custo dos juros sobre a dívida pública, fazendo com que o
déficit nominal em relação ao PIB se mantenha relativamente estável em 3%.
No
entanto, o verdadeiro déficit jamais é mencionado. Quando levamos em
conta a necessidade de se refinanciar a dívida, isto é, a dívida que deve ser
rolada em um dado período, o déficit real sobe para estonteantes 18,2% do PIB,
um nível apenas ligeiramente menor do que aquele que levou os PIIGS ao seu
calvário (para mais detalhes sobre este processo, ver este artigo).
Ao contrário destes problemáticos países europeus, o Brasil já paga uma alta
taxa de juros sobre sua dívida, o que o permite rolar com mais facilidade suas
obrigações vincendas. Pelo menos por ora.
Mas
como os atuais incentivos fiscais irão impactar as finanças do governo nos anos
vindouros? Nem mesmo o governo se arrisca a dizer. Não nos entenda
mal, somos sempre a favor de uma redução na carga tributária. No entanto,
não da maneira improvisada como ela foi feita neste ano. Ademais, reduzir
as receitas do Tesouro sem uma concomitante redução nos gastos é uma política
extremamente perigosa.
O que ainda está por vir
Há
uma outra tendência preocupante que poucos economistas estão abordando: a
acumulação de empréstimos feitos por bancos estatais para entidades federais e
estaduais, bem como para governos estaduais.
Uma
fonte fundamental para a inflação monetária dos anos 1980 e 1990, os hoje
extintos bancos estaduais regionais tinham de ser constantemente socorridos
pelo Banco Central em decorrência de seus temerários empréstimos para os
governos estaduais e para suas respectivas estatais, operação esta que
equivalia a criar dinheiro e desperdiçá-lo. Com enorme frequência, tal
operação significava emprestar para seu próprio acionista — os respectivos
estados.
Com
as reformas estruturais dos anos 1990, estes bancos foram ou liquidados ou
privatizados, e a quantidade de empréstimos que podiam ser tomados por governos
estaduais foi limitada pela Lei de Responsabilidade Fiscal, reduzindo essa
questionável prática a um mínimo. Mas isso já mudou. Tendo crescido
a uma taxa de 50% em relação ao ano passado, já há um total R$100 bilhões
concedidos via empréstimos ao setor público. Há algum banco privado
bancando este risco? Duvidoso. Para ser mais exato, bancos estatais
são responsáveis por nada menos que 98% do dinheiro emprestado ao setor
público.
E
tem mais. Guido Mantega recentemente aprovou um aumento da tolerância
fiscal para a maioria dos estados, permitindo que eles pegassem mais
empréstimos e aumentassem o investimento público. Trata-se de uma clara
violação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Consegue ouvir os passos do
elefante? Consegue ouvir as porcelanas sendo destroçadas? Não há
mais necessidades de os estados recorrerem ao setor privado; o BNDES irá
financiar a farra creditícia.
Podemos
agora finalmente responder à pergunta sobre se o investimento irá elevar o PIB
do próximo ano. Francamente, cremos que sim. Tanto o investimento
privado quanto o público tende a crescer. O primeiro devido à
sub-precificação do capital; o último em decorrência da nova e confortável
relação com os bancos estatais. No entanto, a qualidade destes investimentos é uma questão
totalmente à parte.
Para onde estamos indo
A
menos que ocorra uma súbita e acentuada alteração de rota, a economia
brasileira não está indo para um caminho de desenvolvimento sólido.
Falando mais claramente, o governo está se intrometendo em tudo. As reformas
macroeconômicas feitas com a introdução do Plano Real foram as mínimas necessárias para
permitir algum desenvolvimento econômico. Agora já voltou a ficar claro
que existem muitos gargalos. O custo Brasil não pode ser resolvido por
meio de microgerenciamentos da economia. Adicionalmente, ao suprimir o
mecanismo de preços em vários setores, desde eletricidade até petróleo,
passando por telecomunicações, o governo está apenas provocando escassez quando
tudo o que ele mais quer é abundância.
Certamente não é nossa crença que a estabilidade
macroeconômica e o crescimento do PIB brasileiros observados ao longo dos
últimos 15 anos se devem majoritariamente a um boom no setor de commodities,
liderado pela China. Para surfar a onda gerada por um boom nas
commodities, nossa prancha de surfe tem de estar em bom estado. Foram
precisamente as reformas estruturais feitas nos anos 1990 e no início da década
de 2000 que garantiram um sólido fundamento para a estabilidade, a qual, no
final, permitiu que o país se beneficiasse de uma economia global em franco
crescimento.
No
entanto, desde o advento da presidência de Lula, nenhuma reforma estrutural foi
feita. E não há nenhuma reforma estrutural na agenda do atual
governo. Com o risco de soarmos repetitivos, insistimos que as reformas
macro — legislação trabalhista, tributária, previdenciária etc. — são essenciais
para garantir um crescimento econômico sólido e sustentável.
Considerando
a visão de mundo de Dilma e de seu partido, em conjunto com suas aparamente
altas taxas de aprovação, é de se temer que Guido Mantega e sua equipe
econômica continuem insistindo nestas políticas fracassadas. Lentamente,
porém resolutamente, o PT está solapando os fundamentos da estabilidade
econômica implementados durante o governo FHC.
Não
obstante, o Ministro da Fazenda prometeu manter sua postura keynesiana, e dar
continuidade à política de fornecer mais estímulos à economia. O que ele
parece não entender é que tudo o que a economia mais precisa é da remoção dos desincentivos ao investimento, e não de mais
intervenções para tentar remediar as fracassadas intervenções passadas.
Se
seu investimento só é viável com empréstimos concedidos a juros de 2,5%, e sob
generosas condições, então seu investimento não é viável em termos normais.
E se ele não é viável, é porque ou não há demanda para seus produtos ou a
carga tributária faz com que ele não seja lucrativo. Se a carga
tributária é a culpada, então está claro por que o investimento não é tão alto
quanto o governo gostaria que fosse. Tornar empreendedores viciados em
crédito barato e farto não irá curar essa indisposição. Tampouco seria
uma solução racional fazer o governo empreender faustosos investimentos
públicos. Tal medida representaria apenas o desperdício de recursos escassos
e a alocação errônea e insustentável de capital. Falando nisso, a um ano
e meio do início da Copa do Mundo de 2014 e com várias obras de infraestrutura
ainda com considerável atraso, 2013 promete ser um ano repleto de devassidão
com o dinheiro dos pagadores de impostos.
Muitos
podem dizer que esta visão é "pessimista". Mas não é. Se
o governo alega que irá reduzir as tarifas de eletricidade e ao mesmo tempo
fazer com que a energia seja abundante por meio da imposição de controle de
preços, deveríamos nos ajoelhar e rezar pedindo para que "desta vez
funcione"? Ou você entende as consequências das políticas públicas e
passa a agir correspondentemente, ou você ingenuamente se entrega à esperança
de que, por algum motivo inaudito, o resultado desta vez será diferente.
Mas
ainda é possível permanecer otimista em relação a qualquer setor que ainda não
tenha sido tocado pelo governo. O desafio, no entanto, é descobrir qual
seria esse oásis econômico no Brasil.
quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013
O CUSTO BRASIL
O gráfico abaixo foi elaborado por três pesquisadores brasileiros do Banco Mundial e retrata o famigerado Custo Brasil. Observamos recentemente várias medidas paliativas do governo federal tentando reduzir esse custo: desoneração da folha, redução de impostos de importação para máquinas e equipamentos, financiamentos com juros subsidiados, linhas de créditos específicas etc....
No entanto, todos nós sabemos que o Brasil precisa implementar duas ações urgentes:
a) uma reforma tributária
b) uma política de ampliação dos investimentos em P & D.
A verdade é que ainda somos um país altamente protecionista e pagamos caro por isso.
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
DESINDUSTRIALIZAÇÃO?
Abaixo socializo com vocês uma matéria recente produzida por técnicos do DIEESE de Santa Catarina que retrata o momento da industria e do mercado interno brasileior a partir de uma análise da situação catarinense. Vale a pena ler:
Os indicadores de
produção e emprego industriais fecharam 2012 com resultados muito ruins.
Conforme mostram os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a produção industrial regional manteve um comportamento oscilante ao longo de
todo o ano, crescendo em um determinado mês e recuando no mês seguinte. Ao
longo do ano, a produção industrial não conseguiu “engatar” um ritmo de
crescimento, seja em termos setoriais, seja em termos regionais (ver Carta IEDI
nº 554: Indústria de novembro de 2012: Produção Sem Ritmo e Emprego em Queda).
Esse comportamento oscilante decorre do fato de que, ao mesmo tempo em que a
indústria já recebe os efeitos dos fatores de estímulo à recuperação (redução
dos juros, desvalorização cambial, etc.), ela sofre determinações mais
profundas, de caráter estrutural, que levou ao segundo ano seguido de declínio
da produção industrial.
Conforme
diagnosticou o IEDI, no documento supra citado, os principais fatores
contrários a um desempenho favorável da indústria nos últimos anos seriam: “(i)
término do ciclo de duráveis; (ii) colapso dos investimentos da economia
brasileira; (iii) falta de competitividade da indústria nacional, com reflexos
internos (maior concorrência do produto importado no mercado interno
consumidor) e externos (queda das exportações de produtos industrializados); e
(iv) aumento dos custos sistêmicos e do custo do trabalho, dado um pequeno
avanço da produtividade” (p.2). Em 2012, até novembro, a produção industrial recuou
2,6%, resultado da queda do nível de produção em nove das catorze localidades
pesquisadas pelo IBGE. Cinco locais recuaram acima da média nacional (–2,6%):
Amazonas (–7,1%), Espírito Santo (–6,0%), Rio de Janeiro (–5,6%), São Paulo
(–4,1%) e Rio Grande do Sul (–3,9%). Dado o peso que esses estados têm na
produção nacional fica claro que o problema da indústria é muito sério.
Em Santa Catarina,
apesar da indústria em geral também atravessar dificuldades, o comportamento em
setores estratégicos da indústria de transformação (Têxtil; Borracha e
plásticos; Artigos do Vestuário; Papel, celulose e produtos de papel; Produtos
químicos.) apresentam comportamento diferente no período janeiro/novembro:
1) houve expansão da produção e da
produtividade da indústria catarinense no decorrer do ano de 2012, já que as
taxas de crescimento do número de pessoal ocupado não acompanham as taxas de
expansão da produção;
2) ocorreu crescimento
também do faturamento real (resultado de vendas) das empresas no ano. Apesar de
haver crescimento, com exceção da indústria de vestuário e têxtil, na massa
salarial real, a expansão desse indicador ficou aquém ao observado no
faturamento. Ou seja, o trabalhador produziu mais e recebeu menos em Santa
Catarina. Todas as indústrias analisadas neste breve artigo registraram aumento
na produção e no faturamento (vendas) com crescimento em menor proporção no
número de pessoal ocupado e na massa salarial real.
Como não existe
nação desenvolvida sem indústria, as dificuldades mencionadas têm que ser
enfrentadas com vigor e inteligência. É fundamental evitar fortes movimentos do
câmbio, especialmente na direção da valorização do real. As taxas de juros têm
que continuar baixando (sem descuidar da inflação) e confluir definitivamente
para parâmetros internacionais. O Brasil também tem que estabelecer barreiras
aos capitais não desejados. Além disso, o país tem que desenvolver um conjunto
de políticas voltadas para o objetivo de expansão do mercado interno, que é o
maior ativo que a economia de um país pode possuir. Por isso é fundamental
acelerar o processo de inclusão e de distribuição de renda.
Fonte: Texto produzido pelos Economistas e Técnicos do DIEESE de Santa Catarina Mairo Edegar Brandes e José Alvaro de Lima Cardoso.
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