O real caminha para encerrar fevereiro na dianteira do ranking das moedas mais valorizadas do mundo em relação ao dólar, como já ocorreu em janeiro. Até ontem, a moeda brasileira acumulava alta de 11% no ano, à frente do peso mexicano, com ganhos de 8,9%, do dólar da Nova Zelândia, com 8,5%, e de 8% do rand sul-africano. Só o iene perdia do dólar americano: 4,3%.
Segundo especialistas, a valorização do real é explicada, principalmente, pelo otimismo do investidor global com o Brasil. Em janeiro, por exemplo, entraram no País quase US$ 5,5 bilhões na conta do chamado investimento estrangeiro direto. Para se ter uma ideia, no mesmo mês do ano passado, o saldo positivo foi de US$ 2,9 bilhões.
O fluxo cambial - que resulta da diferença entre entradas e saídas de dólares do País - estava positivo em US$ 6,5 bilhões nos 17 primeiros dias de fevereiro, segundo o Banco Central (BC). Quase US$ 4,2 bilhões tinham origem no segmento financeiro, enquanto US$ 2,4 bilhões eram de operações comerciais (exportações menos importações).
Outro fator importante é a política de governos de países desenvolvidos para estimular suas economias em meio à crise. Tanto o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) quanto o Banco Central Europeu (BCE) vêm despejando enormes quantidades de dólares e euros no mercado. Amanhã, por exemplo, o BCE fará uma nova operação para aliviar as dificuldades do setor bancário da região.
Para analistas, a tendência é de que um cenário parecido se mantenha ao longo de 2012. Por isso, a maioria deles prevê que a cotação a moeda americana não vai se alterar muito na comparação com os níveis atuais. O dólar iniciou a semana valendo R$ 1,708, uma leve alta de 0,12%.
Para o fim do ano, a expectativa da média do mercado é de R$ 1,75, conforme o boletim Focus divulgado ontem pelo BC. O Focus é uma síntese de projeções de aproximadamente uma centena de bancos e consultorias.
"A valorização do real não é conjuntural, mas sim estrutural, e está relacionada com a boa situação do Brasil em relação aos países desenvolvidos", afirmou o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. O especialista lembra que, desde 2003, quando começou o primeiro mandato do então presidente Lula, o real ganhou terreno em todos os anos, com exceção de 2009. Em 2003, o dólar médio foi de R$ 3,06. Nos anos subsequentes, atingiu R$ 2,93 (2004), R$ 2,43, R$ 2,16, R$ 2,05, R$ 1,84, R$ 1,99 (2009), R$ 1,76, e R$ 1,67.
O diretor executivo da NGO Corretora de Câmbio, Sidnei Nehme, está um pouco mais pessimista do que a média do mercado. Para ele, o dólar encerrará 2012 perto dos R$ 2. "Acredito que o cenário externo será pior do que a maioria dos meus colegas avalia hoje", explicou.
Fonte: O Estadão Online